Alfabetizar a política brasileira.

Se a população brasileira continua votando errado não é porque ela gosta de sofrer ou não queira mudar, mas por não ser formada e educada em tal campo. Tanto o povo quanto uma parte considerável dos políticos, infelizmente não sabem ao menos o essencial no terreno político.

Dias atrás, andando por um bairro periférico de uma cidade que faz parte da região metropolitana da Grande Belém, fui forçado a fazer uma reflexão acerca do modelo político brasileiro e a pensar nas graves conseqüências em virtude do analfabetismo político e na angustia daqueles que ainda acreditam que projetos bem arquitetados politicamente poderão salvar um país como o nosso.
Aproximadamente vinte crianças – incluindo alguns adolescentes – brincavam na lama depois de uma leve neblina. Isto mesmo, na lama, por falta de uma área de lazer. Uma bolinha furada, levada ao fogo e sarada era o instrumento usado por eles para fazerem à festa, naquele pequeno e indigno espaço que mais parecia ser um mangal.
Alguns deles – já tatuados – exibiam nos seus bracinhos, dragões e outras “mizuras”, cortes de cabelo de todas as cores e de todos os modelos, alem de um palavreado pra lá de vulgar, tudo isso exposto naquele pequeno e indefeso grupo.
Chamou minha atenção e eu me dirigi até a presença uma senhora que estava ali por perto e começamos a conversar. Eu fui provocando nela à conversa e o diálogo foi fluindo. Aquela senhora me contava que, naquele local imperava a violência, o tráfico, a bebida, a prostituição, e o pior, mortes aconteciam com muita freqüência e naturalidade.
Moram em verdadeiros casebres. Casas mal feita: sem acabamento, sem quintal, sem o mínimo de segurança... Sem estrutura. Desprovidas de quaisquer atributos que possa dignificar a vida das pessoas que ali moram.
Na volta para casa, eu fazia um debate interior: e os 40% de impostos que o cidadão paga em tudo que compra, aonde vai parar? É bom que saibamos que em tudo que compramos, 40% do valor bruto cai nos cofres públicos. Na compra de um carro de R$ 30.000, por exemplo, R$ 13.000 é destinados a impostos. E porque não financia casas aos pobres? Porque os fazer viver em gaiolinhas subumanas? Falta área de laser para as crianças. Porque não coloca infra-estrutura onde precisa?
Acredito que viver é bem mais do que esta vivo, fico imaginando o futuro de cada criança daquelas que ao som de festas, pedradas, tiros e gemidos mal podem dormir. Imagino a escola onde elas estudam, meu Deus.
O que parece mais viável e lógico para a maioria daqueles meninos: continuar estudando mesmo sabendo que não poderão pagar uma Universidade particular – uma vista que a educação recebida é de péssima qualidade para disputar uma vaga na Universidade pública – ou aderir o mundo do crime que se apresenta como uma proposta emergencial?
No Brasil, quando um presidente, um governador ou um prefeito assume o poder, ele trás consigo sua pasta contendo o seu planejamento debaixo do braço, pronto para começar a executar tudo do zero. Cada governo é independente do outro, não existe uma seqüência governamental. Cada um, forma sua equipe apta a defender os interesses daquele grupo detentor do poder. Infelizmente esta é a triste realidade.
Tal modelo é ridículo. Isto é algemar o progresso do país. É fazer refém a esperança de seus patriotas. É condenar ainda mais o brasileiro a viver à periferia de um país novo de pensamento novo. É só pesquisar os paises desenvolvidos e ver a diferença: existe um macro projeto do país, não do governo “a” ao “b”, isso não significa que o governante não possa fazer seus próprios projetos, mas não pode ferir a “espinha dorsal”, o projeto mestre.
Todavia, tais realidades aqui no Brasil, são entocáveis ninguém se atreve a comentar, e o que é mais triste: alunos do ensino médio das escolas brasileiras são privados de tais informações. A educação que temos não nos leva à revolução e conseguintemente a uma transformação.
Não custa nada dar um exemplo: nosso povo não seria capaz, em sã consciência, de se submeter a uma intervenção cirúrgica com alguém que não estudou a medicina, mas vota em candidatos que se quer sabe onde nasceu e qual a finalidade da política.
Se a população brasileira continua votando errado não é porque ela gosta de sofrer ou não queira mudar, mas por não ser formada e educada. Tanto o povo quanto uma parte considerável dos políticos, infelizmente não sabem ao menos o essencial no campo político.
Precisa-se estudar filosofia, sociologia e política nas três sérias do ensino médio. Eis o ponto de vista de um cidadão brasileiro que sonha com dias melhores para o seu país.
Com 16 anos o cidadão brasileiro já pode votar. Mas uma coisa não quer calar: ele foi preparado moralmente e eticamente? No terreno sociopolítico ele tem um senso crítico aguçado e apto, que o possibilite escolher com liberdade um representante sério e comprometido com o bem comum? Ele mesmo estaria preparado a concorrer uma vaga no legislativo de sua cidade?
Quais são as condições impostas pela constituição brasileira para que alguém possa exercer um cargo público? Pois é, eu também não sei. Mas sei as aberrações que acontece dentro do legislativo e do executivo. Aquelas crianças que mencionei acima, hoje, sem terem culpa alguma, sofre as conseqüências de tais desordens. Cadê o projeto descente que visa torná-las cidadãs livres, críticas e de pensamentos independentes?
Aquelas pobres vítimas são postas num mundo que as concebeu e as deixou a própria sorte. O atual modelo econômico tirou de seus pais até o merecido direito de trabalhar.
Fazer política é mais que uma aptidão a um cargo público ou uma necessidade neurológica de poder, é antes, colocar-se a serviço daqueles de quem se está fazendo a representatividade e assumir compromissos para com o País, o Estado ou o Município. O homem público dever ser moral, ético e ter uma postura exemplar. Deve ser no mínimo, diferente da maioria que atua, hoje, no Brasil.
Muitos brasileiros já não acreditam mais na política. Tratam-na com indiferença como se a ação política não tivesse o seu poder transformador, não sabem que na linha mestra que conduz um país democrático a ação política não é coadjuvante, mas protagonista. Isso precisa ser categoricamente aprendido ainda no ensino médio.
Precisamos mudar urgentemente quadro político brasileiro. O desafio é grande e o problema é muito grave. Eu diria que o desafio maior, hoje, não está somente na escolha de candidatos, mas em encontrar um candidato devidamente preparado e apto ao serviço.
O cidadão para se lançar candidato deve antes receber uma formação política que provoque nele amor à causa, sensibilidade para com a população e disponibilidade em servir e promover o bem comum. Entretanto, a política mal educada atual está elegendo candidatos que são verdadeiras tristezas e decepções no chão da responsabilidade, da verdade, da moral e da ética. São pessoas que aspiram cargos públicos exclusivamente para ganhar prestigio social, poder e dinheiro, além das vantagens pessoais em detrimento do bem comum.
Hoje, muitos votam simplesmente para não invalidar o título eleitoral, mas o voto é desprovido de qualquer compromisso para com a sociedade e para consigo mesmo. Já não acreditam, ou melhor, nunca acreditaram, não sabem nem o que significa o ato que acabam de fazer. A culpa não e de tais pessoas, mas de quem detém o poder e nada faz para educá-las.
Em vista de tudo que foi mencionado podemos concluir que: com pais educados politicamente e com uma boa formação política, os brasileiros: tanto eleitores quanto os eleitos, poderão conduzir o nosso país pelo melhor caminho, aquele calçado pela ética, pela justiça, pela segurança e pelo direito.