As lágrimas da Amazônia.

Se a devastação na Amazônia hoje, é um fato escandaloso, não é culpa dos índios, nem dos caboclos e muito menos dos colonos. Pobre não destrói a floresta. A amazônia é devorada por aqueles que chegam, tomam posse, devastam violentamente e fazem mundos de fazendas e na maioria das vezes ainda gazam da benção do governo.

A Amazônia, imenso e bonito jardim que comporta a maior biodiversidade do planeta, onde “nossos bosques tem mais vida” como decanta o hino nacional brasileiro, abriga desde os tempos ancestrais dois preciosos patrimônios: o patrimônio florestal e o humano. Todavia, ambos estão sendo vítimas da tirania capitalista, e lamentavelmente, a maior riqueza da Amazônia, que é o homem amazônida é o mais ameaçado.
O Brasil tem anseio por crescer e tem potencial para se desenvolver, porém, não pode esquecer que, o que nos faz ser portadores de uma riqueza ímpar, é o nosso patrimônio ambiental, que gradativamente está se extinguindo.
Todo brasileiro sabe, que a Amazônia merece mais atenção do governo brasileiro do que tem recebido. E é do conhecimento de muitos que o território amazônico é muito frágil e exige cuidados. O solo da Amazônia é pobre em relação à cultura que lhe é cultivada. A partir do terceiro ano de cultivo, a terra não tem mais o mesmo potencial de regeneração, quanto às terras nordestinas – por exemplo. Mas, a grande chaga que está impressa nesse território chama-se fazenda. Os grandes fazendeiros além de devastarem demasiadamente a floresta, investem na monocultura. Vê a pecuária como a única alternativa. A floresta é devastada, o capim é plantado e como a terra é frágil, depois de alguns anos é preciso aumentar a fazenda, porque o capim não cresce tanto quanto antes.
Se a devastação na Amazônia hoje, está como está não é culpa dos índios, nem dos caboclos e muito menos dos colonos. Pobre não destrói a floresta, a amazônia é devorada por aqueles que chegam, tomam posse e fazem mundos de fazendas e muitas vezes gozam da benção do governo. Fazendeiros e madeireiros, esses sim devastam, destroem e acabam. Os pobres permanecem no local, enquanto estes se quer, moram aqui, portanto a casa não pertence a eles. O que acontecer depois, com o solo devastado que se dane o importante para eles é o lucro.
Mesmo cientes de tudo isso, diariamente os jornais do mundo inteiro notificam sempre as mesmas coisas, um esteriótipo negro já é concebido quando se ouve falar de Amazônia. Desmatamento, queimadas, latifúndio e invasões.
Em fevereiro deste ano, o Brasil inteiro acompanhou com tristeza e preocupação e o mundo todo ficou sabendo da Operação Arco de Fogo, feita pala Polícia do Pará e Polícia Federal, em Tailândia, nordeste paraense, que desencadeou na apreensão de 50 MIL METROS CÚBICOS DE MADEIRA. Isto numa única cidade paraense, que possuía nada menos que 147 serrarias e mais de 1000 fornos de fazer carvão. Para se ter uma idéia do crescente índice de desmatamento na região, o SAD (Sistema de Alertamento de Desmatamento), publicou os seguintes dados:
De agosto de 2006 a julho de 2007 foram desmatadas 11,200 km² de floresta.
De agosto de 2007 até o final de março deste ano, o desmatamento chegou a 4.732 km².
Só no Pará e somente de janeiro a março do ano corrente, foram 65 km² de floresta devastada.
Um outro problema grave que ronda a este chão é a implantação de grandes projetos, e de maneira particular, as hidrelétricas, que enchem os olhos da Amazônia da lágrima e de escuridão.
Já está em pauta, e prestes a ser executada a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Esse projeto não é novo, e os que o defendem alegam a necessidade de energia para abastecer as grandes indústrias do Sul e Sudeste, mas, na verdade – e nem todo mundo sabe – que os principais interesses são para apoiar os grandes projetos na Amazônia prevista no PAC e as grandes mineradoras que tambem gozam da benção do Governo Federal. O mais interessante é que, existem famílias que moram debaixo das redes elétricas, mas, se quer, tem acesso à luz, vivem à exclusão e à escuridão.
No atual projeto de Belo Monte, a área a ser alagada seria de 440 km² a 590 km² (varia da época do ano) e boa parte das áreas ribeirinhas da cidade de Altamira seria inundada. Um total de 2.000 FAMÍLIAS NA PERIFERIA URBANA de Altamira teria que se mudar, além de 800 FAMÍLIAS NA ZONA RURAL e 400 FAMÍLIAS RIBEIRINHAS.
Além das áreas alagadas pela barragem uma extensão de 110 km ao longo da volta do grande do Xingu ficaria praticamente seca. E o povo que mora às margens, vai viver de quê? – Uma vez que o rio é o eterno “supermercado”. Como essa gente vai se locomover? – Se o barco é o ônibus e as canoas, (os cascos como eles chamam) são os táxis.
É muito séria essa questão. Quando eu escrevia tais parágrafos, pensava comigo mesmo: porque que isto não é publicado na imprensa? Porque que os índios, os ribeirinhos, os caboclos são tidos como empecilhos para o “progresso” interesseiro e desumano? Pelo menos é esta a mentalidade que os tendenciosos meios de comunicação de massa passam para o espectador. E às vezes temos memória curta. Não sabemos fazer uma crítica de tais questões. Não questionamos nada, parece até que tudo está certinho, a mil maravilhas...
É impressionante como a sensibilidade e a humanidade de muitas pessoas, sedem espaço ao dinheiro e a ganância. Se o Governo Federal executar o que já está prescrito, toda essa gente: senhores, senhoras, jovens, crianças... Será remanejada a outras áreas de ocupação, ocasionando assim o êxodo-rural, inchando as periferias das cidades, expondo as pessoas à pobreza, os jovem à marginalidade, às jovens à prostituição... Enfim, imaginemos, pois, o que um índio vai fazer na cidade grande a não ser sofrer? O que uma senhora que conviveu com a harmonia da natureza quase a vida toda, vai fazer num caos sonoro, meu Deus?...
É inadmissível! Creio que o progresso não justifica o sacrifício de muitos indefesos.
Algo faz o povo se calar.
Mas eu queria que você se atentasse ao seguinte: Você acha que esse povo não grita, não reclama e “morre” de medo de perder esse governo, é porque aprova tais ações ou tem um “x” nessa questão?
Eis o porquê: a política assistencialista, adotada por esse atual governo, põe um bombom na boca do povo sofredor, que vem sendo vítima da tiranias anteriores. Um bombônzinho em forma de bolsa-cabresto e torna os pobres vulneráveis e dependentes, numa situação de escravidão moderna, por medo de perder o “feijão do sul” se calam. Assim o povo é marionetizado, barriga cheia e cabaça vazia. Nada contra essas pessoas simples e desinformadas, eu as entendo, elas são vítimas e, lamentavelmente não percebem.
O povo da Amazônia quer viver, não de esmolas e de favores, mas dignamente com cidadania e liberdade.
Por trás de tudo isso, percebe-se com muita clareza a irresponsabilidade social do Governo Municipal, Estadual e principalmente Federal, por não oferecerem alternativas para a população viver de maneira mais digna. À comunidade não é proporcionado um outro modelo de cultura da madeira. O Manejo Florestal, por exemplo, que consiste no uso inteligente da floresta, (corta-se as árvores adultas e preservam-se as jovens) esta sim, é a única garantia de sustentabilidade social e de preservar a floresta em pé. Também a falta de vontade política não possibilita que as terras sejam regularizadas através da Reforma Agrária. Assim a terra tende a se concentrar nas mãos de poucos e deixa a população cada vez mais dependente.
Na Amazônia, não é oferecido aos colonos projetos para o cultivo de outras culturas, uma vez que o milho, a mandioca, o arroz e outros não são mais compatíveis a terra, porque que não é financiado e oferecido aos nossos caboclos o cultivo de maracujá, de mamão, de hortaliças e de tantas alternativas que possibilitaria de todos trabalhem menos, ganharem mais, e o melhor, em pouco espaço, o que significaria a não destruição da floresta. O que não dá, e definitivamente não dá, é ver os colonos serem despojados de suas terras e os fazendeiros devastando impiedosamente.
Sou amazônida. Amo a minha Terra. Sinto-me tão feliz ao chegar à minha casa e acordar ouvindo os pássaros cantarem... Vê-los se sentirem protegidos pertinho da gente. Bem pertinho. Minha família ainda goza dessas coisas. Fico muito triste e angustiado com quem detêm o poder e nada faz em favor do povo pobre e humilde. Não acredito que ninguém sinta o cheiro da fumaça dos nossos açaizais, das nossas florestas em chama. Pergunto-me: quando que a pessoa humana ficará no centro e o dinheiro servirá para promover a vida e o bem estar das pessoas?
Mas eu tenho certeza que o jardim amazônico é criação de Deus, e Ele o guardará. Não somente guardará, como o salvará da destruição, juntamente com os povos o habitam.