Predestinação e Predeterminação

Não somos meros empregados da existência. Temos a possibilidade de fazer de nós o que quisermos: somos seres livres.

Deus, ao criar o homem e dá a ele à liberdade, automaticamente está lhe dando a possibilidade de, livremente, amá-lo ou renega-lo. Somos senhore(a)s do hoje e do amanhã.


Muitos filósofos já se debruçaram sobre o tema da liberdade humana. Algumas correntes filosóficas defensoras da idéia do Livre Arbítrio defendem que o homem é o único ser dotado de liberdade. Outras correntes deterministas tenderam às explicações partindo de outros prismas e declararam que o homem é predeterminado, Deus o fez e o colocou no mundo condenado a cumprir o estabelecido, pois o futuro é imutável. Mas, afinal, a qual pensamento se pode credenciar como uma explicação plausível e digna de aceitação?

O pensamento cristão-ocidental, alicerçado na explicação teológico-filosófica da Igreja Católica diz o seguinte: fomos postos no mundo predestinados a cumprir a vontade de Deus, nosso Criador, (Ele quer que os homens, fazendo a sua vontade, sejam salvos) mas não somos condenados à predeterminação (como se o futuro fosse imutável). Se vamos trilhar o caminho “querido” por Deus, vai depender de cada um, da livre escolha de cada pessoa. Se fossemos predeterminados não tínhamos escolhas, nossa única opção seria cumpri o estabelecido.

Os animais cumprem cabalmente e piamente o que lhes foi estabelecido pelo Criador, porque não tem escolhas. São predeterminados a fazerem o que fazem, na verdade reproduzem seus “atos”, agem por instintos não por liberdade. Por isso não ganham nenhum mérito diante de Deus, eles não tem opções, dois ou mais caminhos. São predeterminados a fazerem o que fazem. Ao contrário do homem que ganha liberdade no cumprimento de uma lei. Cabe a ele o poder de decisão: “faço ou não faço”. Para os homens existem caminhos, para os amimais resta caminhar nos trilhos da existência. É a nossa capacidade de salvação ou de perdição que nos difere do resto da criação. Somos seres inacabados, não temos uma característica perene, podemos mudar tudo: somos livres.

Thomas Antonio Gonzaga (1744-1810), pensador português que viveu grande parte de sua vida no Brasil, quando se referia sobre o tema da liberdade assim se expressava: “Deus criou o homem capaz de criar leis que o leve o um retorno a Ele, através de boas ações. Pois, a liberdade dá ao homem capacidade de participar de sua própria salvação”.

Quando Deus da ao homem a liberdade, automaticamente dá ao homem capacidade de rejeitar seu próprio Criador. Ao contrário do resto da criação, que segue aquilo que Deus quis, o estabelecido, o determinado pelo Criador. Aqui existe uma predeterminação nas cadeias das ações do resto da natureza-criação.

A predestinação é entendida na perspectiva de Deus e do homem. Deus cria o homem e dá a ele uma faculdade que é só dele: a liberdade, a partir daí o homem faz de si o que achar melhor. O homem por sua vez, corresponde ou não à expectativa de seu Criador. Pico Dela Mirândola (1463-1494), filósofo italiano, ao se referir ao homem livre declarou: “o homem pode se elevar à dignidade de anjos, mas também pode descer à categoria das bestas”.

Santo Agostinho, diz que: “assim como você, pelo exercício da memória, não obriga a ocorrência dos eventos passados, Deus, por sua presciência, não obriga a ocorrência dos eventos futuros”. Logo, Deus, apesar de saber previamente os acontecimentos futuros, dá ao Homem a possibilidade de modificá-los e de criar uma nova versão do futuro, que, aliás, Deus também já consegue prevê-la. Mas aqui aparece um dado importante: o homem é predestinado a fazer a vontade de Deus, mas não é predeterminado, podendo, inclusive, se opor a Deus.

Predestinação é a salvação que Deus planejou para os homens. Deus salvará aqueles que, fazendo uso da liberdade, preferir fazer a opção por Ele, e condenará os que O renegarem livremente. E por outro lado, na perspectiva humana, em que cada pessoa, sendo livre, é responsável pela sua escolha de aceitar ou rejeitar a Deus e à sua graça.

Mas, o homem ao se sentir livre não deveria excluir de si o temor e a gratidão ao doador de sua liberdade. Pois, o homem, ao contrário do resto da criação, e somente ele, pode realizar ações que vão contra a vontade de seu Criador. A criação, com exceção do homem, cumpre o estabelecido. O homem, e somente ele, pode sair do traçado.

Sendo criado livre, o homem tem a capacidade de aceitar ou rejeitar a graça divina da salvação, que é a vontade de Deus para o homem, sua predestinação, não predeterminação. Apesar da vontade divina de salvar toda a humanidade, o Homem pode livremente recusar a salvação e a santidade oferecidas por Deus.

A racionalidade que há em nós implica a nossa liberdade. Somos seres de escolhas. Ao contrário dos outros amimais, por isso livre. A razão é uma das faculdades mais fantásticas da pessoa humana ela nos permite à liberdade. Nosso futuro é mutável sim. Somos senhores do presente e do futuro, o nosso amanhã é, para nós, como o barro nas mãos do oleiro.