Movimento das Pernas e das Ideias...



Sol, espero-te sentado à beira da praia.
Ondas, revelam-me o segredo de vencer o terror da escuridão.
... E nesse acorde de vento e mar que sinto o perigoso e irresistível parto dos meus primeiros pensamentos desse novo dia...
Meus dedos rasgam a areia úmida da praia e meus primeiros escritos referem-se a Deus. Uma tímida tentativa de compor uma frase que descreva, embora de maneira imperfeita, os mistérios do Criador.
Meus dedos se identificam com a areia e falam de saudade...
Saudade do tempo que as células que compõe o meu corpo, eram sólidas células, eram grãos de areia...
Sou Barro... Sou Terra Viva, Terra que sente, que pensa, que ama e que cuida.
Esse ar que me faz viver, que toca o meu corpo e rege as ondas é o mesmo ar que outrora pairou sobre esse mesmo mar e, adentrando meus pulmões me fizeram viver.
Permitiram-me à experiência da vida, dessa esplendida e dramática peça chamada existência.
Mar e Homem. Oceanos agitados por ondas iguais e diferentes...
... Mundos líquidos, bravos e inseguros. Criações que emergem da mesma fonte originária.
O que é o homem frente a esse oceano? Um grãozinho de areia? Uma gota d’água que respinga no meu papel ou aquele passarinho que se aventura à caça do seu marisco predileto?
... Não vejo o caminho que me leve ao coração desse mar!
Consigo sentir na pele e nas batidas do coração fragmentos de porquês que me arremessam – ainda mais – para esse infinito... E me faz permanecer à procura das respostas.
Estou convencido de que uma vida com muitos porquês... Poderá ser generosa e acabar revelando os porquês que existem na vida.
De quê esse infinito se alimenta para ser tão forte? E quais sãos os porquês das suas fortes fragilidades?
Sol!
É ele...!
Seus luminosos raios anunciam sua chegada. A criação está ansiosa por esse milagre.
... Um ponto, um pontinho de luz rasga as nuvens e se posiciona abaixo do céu e acima do mar. A criação se alegra: o vento sopra mais forte, as ondas ficam mais agitadas e...
... O coração da natureza que está dentro do homem se emudece sem esconder o seu semblante feliz... Sorrir.
É a face do Criador que aquece, alegra e dá vida à sua arte... Ao seu quadro preferido.
A areia, o mar, o vento, os pássaros e os homens... Impactados por essa atitude tão criativa e humilde de Deus, agradece-O. Fazem do seu dia um jeito interessante de viverem a experiência da unidade e da integração e todo o criado.
Somente unida a criação estará apta a se unir ao seu Criador no final do dia...
Assim, a noite é entendida como um grande encontro restaurador... O amanhecer, como um bom dia iluminado... E o dia...
O dia como o cenário.
O cenário desse grande teatro que é a vida... A vida desse projeto infinito que é a criação fecundada por esse infinito projeto chamado Criador.


(Raimundo Freitas, 09 de Julho de 2011. Praia do Ajuruteua, em Bragança do Pará).