Não presto culto o
delírio, assim como não preciso de modelos para fazer deles uma trilha nas idas
e voltas que o intelecto me permite. Mas, confesso que me surpreendo dia-pós-dia
com minha própria sede de liberdade. De liberdade pera pensar: a única liberdade
que existe, aquela adquirida no livre exercício pensante do intelecto.
Filosofia, arte e
poesia: três conceitos que carregam consigo universos infinitos e inesgotáveis.
O intelecto os criou, mas não comporta e nem esgota as suas criações.
A referida reflexão
não pretende e nem pode explicar as referidas crias intelectuais, pois, o âmago
de cada uma é inacessível e insondável, embora tenham brotado da sensibilidade
intelectiva. Proponho-me refleti-las como originalidades e inventividades do
espirito criador, hóspede no conteúdo humano de cada pessoa em exercício de
raciocínio.
A filosofia é um poema
recitado em melodias racionais ao conhecimento. O poema, por sua vez, é criação
que nasce no livre exercício do intelecto que o compõe simetricamente com suas
próprias leis e lentes, e, quando lido e contemplado com o mesmo espirito que o
criou... É elemento filosófico de tanta valia e respeito que se equivale a uma
obra de arte, que, nascendo do original é nutrida e sustentada por sua singularidade
que lhe garante o caráter de única.
Todavia, o espírito
humano, o intelecto criador não deve se orgulhar da sua capacidade de produzir
ou reproduzir, mesmo que isso lhe seja identitário, mas sua sã vaidade se
justifica por está ancorada e plausivelmente justificada na sua original
criação. Não há criação que seja repetida. Todas gozam da mesma beleza que
reside na originalidade da criação filosófica, artística ou poética.
O poeta é divino, o
filósofo é divino e o artista é divino. A singularidade da criação é quem dá testemunho
dessa verdade! A divindade os habita e os faz torna-la visível naquilo que
ultrapassa a humanidade que está em cada um. O pensamento, a arte e a poesia têm
linguagens que não podem se entendidas senão com o auxílio daquelas realidades
que lhes são familiares.
Assim como a arte trás
às telas, a poesia trás às letras e às palavras algo que transcende a
materialidade. Todavia, a reflexão filosófica é a chave mestra para trazer isso
às realidades entendíveis. A reflexão filosófica ao realizar o seu trabalho de
decodificadora, viabiliza o entendimento daquilo que há de mais humano e
compreensível, pois, sem ela a genialidade do poeta e do artista teria brilho,
mas não o veríamos tal como ele é.
O trabalho do artista
e do poeta pode ser comparado a uma pedra de cristal imersa na poeira, em
nenhum momento ele deixa de ser o que é, mas precisa-se retirar a poeira para
que ela apareça tal como ela é. Com isso, não estou dizendo que a reflexão
filosófica seja superior àquelas realizadas pelos poetas e artistas, mas digo
que ela ocupa uma “função” diferente das outras, que são tão originais e tão
geniais como esta.
Na arte, a filosofia
encontra um espaço privilegiado para se alto exercitar. No entanto, não é
ofício da filosofia e de nenhum espírito moribundo punir ou refutar qualquer
que seja produção artística. Também a poesia, embora seja “um escrito”, ela não
tem simetria com os outros escritos. Ela não é um discurso ou uma doutrina, e,
por isso, não pode receber punições. Ambas devem ser pensadas filosoficamente e
contempladas com os mesmos critérios que foram compostas.
Pensamento filosófico,
arte e poesia fazem parte de um mesmo ornamento intelectual criativo, trata-se
de três diferentes obras originárias do espírito que se compraz em raciocinar.
Tratar uma dessas obras com menosprezo ou querer enquadrá-las dentro de
moldurar padrão e de regras preestabelecidas é negar aquilo que identifica o
homem: sua liberdade, sua racionalidade e sua capacidade de criar coisas
originais.
Sair do traçado é
ofício do intelecto. Sua força inventivo-reflexiva é sua característica que lhe
faz destemido na arte de criar. As ideias são produzidas no livre exercício do
intelecto, na racionalidade, porem, elas ganham molde e expressão. Todavia, os
moldes intelectuais são, para nós, amoldáveis. Não há como moldar um pensamento
à imagem e semelhança daqueles já concebidos e que a nós é familiar.
Quando o
filósofo, o poeta e o artista partejam a sua criação, são tão originais quanto
reais. Mas, nenhum molde precede a obra intelectual. Criações intelectuais não
são como bolos em que o forma o precede. Nota-se que, antes mesmo de o bolo
tomar forma já se sabe como ele será. Se assim fosse ao terreno intelectual
poderíamos criticar e até mesmo refutar as obras de arte e os poemas
“imperfeitos”. Em contrapartida seriamos todos condicionados e o intelecto não
seria livre, as também condicionado.
A criação
intelectual é livre em relação a qualquer que seja regras preestabelecidas. Por
isso que, o exercício do espírito originador, que trabalha no universo
raciocinante do espirito humano, é livre e não pode receber nenhuma
subordinação na sua arte de criar. A irrepetibilidade é o trunfo máximo do
intelecto criador e detentor da matriz originária.