Atitude Filosófica

O pensar filosófico é um pensar a trama dos acontecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está simultaneamente no mundo e fora dele. Explico. O filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, de situações corriqueiras, mas ele precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando depois, a fim de proporcionar a mudança e fazer a Filosofia acontecer com os que o cerca.

A Filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos ou um sistema fechado em si mesmo. Ela é um modo de pensar, uma atitude, uma postura diante do mundo descobrindo os seus significados mais profundos. A Filosofia é uma prática de vida que de forma reflexiva, busca compreender os acontecimentos do cotidiano alem de sua pura aparência.
A atitude filosófica nasce, principalmente, a partir da Inquietação, que acende no filósofo o desejo de ver e conhecer. Em segundo lugar vem a Admiração, pois é de onde deriva a capacidade de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza a Filosofia não como posse da verdade, mas como uma busca humilde, constante e dinâmica da essência.
Em terceiro lugar a Filosofia nasce de um sentimento de Angustia. Sócrates, o primeiro dos três grandes filósofos gregos (470-399a.c.), tinha consciência disto, por isso declarou: “Só sei que nada sei”. É exatamente esse não saber que impulsiona o filósofo e o conduz a estranhar desde as coisas rotineiras às mais complexas, pelo fato de não conhecer.
Seguindo estes mesmos princípios o filósofo francês Merleal Ponty (1908-1961), disse que “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”.
Para Kant, filósofo alemão do séc. XVIII, “Não há Filosofia que se possa aprender; só se pode aprender pensar filosoficamente”. Isto significa que a Filosofia é, sobretudo, uma atitude, um pensar permanente.
O pensar filosófico é um pensar a trama dos acontecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está simultaneamente no mundo e fora dele. Explico. O filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, do dia-a-dia e de situações corriqueiras, mas ele precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando depois, a fim de proporcionar a mudança e fazer a Filosofia acontecer com os que o cerca.
Somos filósofos quando nos colocamos a pensar a realidade circundante de maneira crítica e responsável. Assim o filósofo aguça a sensibilidade e percebe metodologicamente as mazelas humanas e sociais e provoca aqueles que detêm o poder sobre as outras pessoas... A filosofia tem sido ao longo da história, fator de crítica e ensaio de alternativas para uma vivencia mais humana, mais harmônica e equilibrada. Por isso mesmo, tem incomodado muito. A própria história registra várias tentativas de desqualificá-la e até mesmo de destruí-la.
Os dominadores e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, coletiva e obediente. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo. Eis o porquê que a filosofia é temida. O dominador não quer que o dominado descubra os seus enigmas e suas ferramentas de opressão. Não quer que ele saiba nada além do “feijão com arroz”. O filósofo por sua vez, tem o pensamento como arma, não bomba e nem propostas escravistas. O filósofo teme a tirania política pelo seu poder sobre o destino do povo.
Cabe a nós o exercício do filosofar, isto é, apreender de forma significativa fazer uma leitura crítica da realidade. Já dizia o filósofo brasileiro Roberto Gomes “A Filosofia é a tentativa de enxergar um palmo diante do nariz. O que não é tão fácil, nem tão inútil quanto muitos pensam, afinal o peixe é quem menos sabe da água”.
A Filosofia é uma atividade humana indispensável, uma vez que a estrutura e a essência da realidade não se manifestam diretamente. Nesse sentido, a Filosofia é uma reflexão sistemática e crítica que objetiva captar a “coisa em si”, via pesquisas criteriosas conhecer a estrutura oculta das coisas e dos fatos. Sobre essa questão Nietzsche, filósofo alemão (1844-1900) escreveu o seguinte “Todo homem que for dotado de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos, se esconde outra muito diferente e que, par seqüência, a primeira não passa de aparição da segunda”.

Criticidade, Radicalidade e Totalidade.

Para que a reflexão seja filosófica é preciso que haja Criticidade. Crítica é a arte de julgar e de discernir o valor. Criticar é, portanto, ter o cuidado de, com rigor, saber estabelecer critérios. Ninguém faz crítica sem entender o contexto. Por isso que o espectador comum não pode fazer uma crítica elaborada de um filme - por exemplo, ele poderá até dar opiniões, mas não faz crítica, porque lhe falta o essencial: informações contextuais. Alem da criticidade é preciso Radicalidade, ou seja, buscar a raiz, a origem e os fundamentos do problema. O conhecimento que não é radical, que não vai à raiz do problema, é ingênuo, ou seja, é a manifestação de uma consciência ingênua que é aquela que conclui tal como pensa, não provêm da realidade nem tem origens em idéias anteriores. É um conhescimento superficial que não esclarece e nem possibilita negação. Portanto, não é conhecimento filosófico. A reflexão filosófica é como a raiz de uma planta que se lança em busca de sempre maior profundidade.
A terceira e última característica do pensamento filosófico é a Totalidade. A reflexão filosófica totalitária, não faz cortes no real a ser posto em crise, como faz a ciência. As ciências explicam partes do todo, enquanto que a Filosofia está interessada no problema em sua totalidade, sem fragmentação.
Estas três características se interpenetram e constituem a própria reflexão. Ao pensar dialeticamente, o filósofo ser somente crítico, sem ser radical e vice-versa. E da mesma forma, não consegue abordar um problema, em sua totalidade sem nela incluir uma postura crítica e uma atitude radical.
A Filosofia parte sempre do que já existe, critica, questiona, vislumbra possibilidades e outros modos de compreender o mundo. O ponto de chegada do ensina da Filosofia consiste na formação de mentes ricas de teorias, hábeis no uso do método, capazes de propor e desenvolver de modo metódico os problemas e de ler, de modo crítico, a complexa realidade que nos circunda.

Limpando os olhos com as lágrimas.

“O homem é um aprendiz e a dor é a sua professora;
ninguém se conhece enquanto não sofreu”
(Alfred Musset).

Depois que nascemos algumas certezas – a morte, por exemplo – são tidas como inevitáveis. Uma outra realidade, inerente ao ser humano, embora pareça ferir mais uns do que outros é o sofrimento.
Assim como o jardineiro poda as plantas para mantê-las em harmonia e ganharem mais vida, o sofrimento molda a vida de quem sofre. Muitas pessoas não o aceitam, e chegam ao extremo do desespero e explodem de raiva da situação em que se encontram.
Creio que ninguém sofre por um acaso. Se o dente dói, certamente a carie já está presente nele. Assim é o sofrimento, ele oferece um “sinal” que algo está errado na vida. Olhando por esse ângulo, passamos a aceitar o sofrimento (não que eu seja ou esteja fazendo apologia ao masoquismo), me atrevo a pensar que quando passamos a entender isso, lucramos muito... E aprendemos a usar as lágrimas para limpar os olhos.
Em contrapartida, quando olhamos o nosso sofrer exclusivamente pela ótica da negatividade ele pode nos levar a nossa autodestruição.
Quantas maravilhas já entraram na vida de muitas pessoas disfarçadas de grandes problemas que causaram tanto sofrimento. Às vezes é uma palavra que nos destrói, porém, nós precisávamos ouvi-la, talvez não daquela forma e naquelas circunstâncias, mas tínhamos necessidades dela... É grande a força das palavras, maior que a força física, bem maior... Pois, ficam guardadas num cantinho de difícil cicatrização.
Os dias-noites faz parte da vida, eles clamam por compreensão. É difícil, mas somos obrigados a vivê-los, eles nos proporcionam uma nova noção de quem realmente somos e de como é enigmática a arte de viver. Estamos muito acostumados, ou mal-acostumados viver e aceitar um único lado da vida: o lado feliz, desprovido de dor.
Portanto, o sofrimento é um pedido de reflexão. Não aceita-lo é negar a nossa própria natureza. O maior desafio é aprender a escutar a nossa própria dor.

Para que serve filosofia?

Muitos estudiosos da área de filosofia diriam que é impossível definir filosofia sem antes, vivenciá-la. Podemos dizer, porém de maneira incompleta, que filosofia é o esforço intelectual para responder a todas as perguntas que possamos fazer e também um esforço para estudar os próprios meios de conseguir as respostas.
Para mim, o filósofo é aquele que quer enxergar o que vêr, e luta por querer escutar o que ouve.
A filosofia não é uma ciência, ela não tem uma área de atuação, ela investiga tudo. Ela se ocupa em levantar questões e tenta resolvê-las. De fato o que a filosofia faz é criar problemas para serem resolvidos. Por exemplo, Tales que viveu na cidade de Mileto, na Grécia antiga, se questionou sobre a origem de todas as coisas. Ele criou um problema: “Do que são feitas todas as coisas existentes?”, através da sua vivência e da sua observação, ele concluiu que a origem de tudo era a água, ou seja, tudo o que existia era apenas uma mesma coisa.
Um filósofo é alguém que está sempre desconfiado e que nunca se contenta com a primeira resposta para as suas perguntas. O filósofo é um investigador que não gosta de explicações superficiais. Ele quer conhecer o que está escondido atrás de cada resposta e de cada pergunta.
Um professor de filosofia, não é algum tipo de sábio ou conhecedor de verdades, é apenas alguém que tenta despertar o senso crítico, a curiosidade e desconfiança em seus alunos. Por isso muitos professores de filosofia criam situações de conflito com os seus alunos. É uma maneira de fazê-los discutir. Professores de filosofia querem que seus alunos discutam e questionem ao invés de vê-los aceitarem o que é dito sem refletir a respeito. Um filósofo também é de certa forma, um provocador.
Sócrates, talvez o mais famoso dos filósofos, eu particularmente o reverencio, pela sua atuação no meio do povo, nas praças, espertando-o, costumava ir a locais públicos conversar com as pessoas que encontrava. Ele questionava as pessoas apenas para provocá-las, para que elas percebessem que não tinham pensado o suficiente sobre o que achavam que conheciam.
Mas do que se ocupa a filosofia especificamente? A resposta é simples: a filosofia se ocupa de tudo o que não for ciência. Isso inclui a ontologia, a metafísica, a lógica, a teoria do conhecimento, a gnosiologia, a ética, a estética e a filosofia da religião.
O exercício filosófico surge do questionamento e da investigação, em resumo, poderíamos dizer que filosofar é em grande parte exercitar o senso crítico e aguçar a curiosidade. O saber filosófico difere do saber comum, sem fundamentação. Na filosofia não existe o “eu acho”. Todo saber filosófico é conseguido através de algum método de investigação.
No início do desenvolvimento do saber, todo conhecimento da humanidade era conhecimento filosófico. Com o passar do tempo os conhecimentos foram se tornando mais específicos e a partir daí surgiram as ciências. Grande parte do que conhecemos e dos avanços nas áreas da medicina, sociologia, psicologia, física e em outras áreas científicas, surgiram dos questionamentos filosóficos.
Embora a filosofia não tenha todas as respostas, ela garante que os esforços despendidos para resolver os problemas tragam benefícios para a humanidade.
Aristóteles, que viveu na Grécia antiga nos deixou obras que tratam de retórica, política, direito, economia, lógica, metafísica e biologia. Seus escritos são quase tão válidos hoje como eram em sua época.
“Para que serve filosofia?” Essa simples pergunta se origina de um grande equívoco e implica que a filosofia se faz muito necessária.
A imagem da filosofia para muitos é de uma disciplina que não se ocupa de coisas práticas e úteis, mas apenas de especulações inverificáveis. Dizendo de outra forma, muitos acreditam que a filosofia é uma total perda de tempo. Isso é um grande engano, na verdade é exatamente o contrário. Quando investigamos o mundo e a nós mesmos, nossa percepção sobre as coisas que nos rodeiam se altera e com ela a maneira de interagirmos com a realidade. Isso inclui a forma como lidamos com o próximo, com as questões políticas e morais; com a vida e a morte, com a natureza, com o conceito de Deus e tudo o mais. As conseqüências práticas são imediatas.
Um exemplo prático e imediato de exercitar a filosofia é o desenvolvimento de senso crítico que nos torna menos manipuláveis. Quem seria mais suscetível de ser enganado e manipulado? Alguém que aceita tudo o que lê e escuta ou alguém que questiona e busca verificar a consistência do que é dito? Óbvio que aquele que possui um senso crítico mais desenvolvido será menos suscetível a manipulação. Além disso, o que mais investiga tem mais chance de explicar o por quê das coisas e de reparar enganos.
Aristóteles, por exemplo, fez muitas observações zoológicas que, temporariamente rejeitadas por biologistas posteriores, foram confirmadas pela pesquisa moderna.
As pessoas deveriam desconfiar daqueles que não estimulam a investigação filosófica ou que a desmerecem. Normalmente isso é feito por uma minoria que quer exercer o poder de manipulação sobre um determinado grupo ou por alguém que se sente ferido em seu orgulho quando a filosofia aponta os seus erros.
Embora muitos filósofos possam divergir em se tratando de questões existenciais, políticas e morais, todos eles possuem algo em comum: exercitam a maior qualidade do homem que é o seu poder intelectual. Viver sem exercitar esse poder, isso sim, seria uma verdadeira perda de tempo.
Todo estudante de filosofia acaba refazendo o caminho percorrido pela filosofia desde o início para poder situar-se em seu próprio tempo como investigador filosófico. Para reconhecer-se em seu lugar na história da filosofia. Diferente das ciências, as teorias filosóficas não se tornam obsoletas. A filosofia não exclui as suas antigas teorias e se aproveita da última versão atualizada das explicações; isso não existe na filosofia. Ela está sempre voltando às suas origens para ser repensada.
Isso quer dizer o que encontramos nas obras dos diversos filósofos não deve ser lido e absorvido como se fossem verdades. Deve ser lido com senso crítico e com desconfiança. Até mesmo porque muitos divergem em vários pontos.
Filosofar não é ler livros de filosofia, não é lecionar filosofia, nem saber o que um filósofo disse ou pensou. Filosofar é, antes de mais nada, ter sensibilidade para admirar-se com tudo e questionar o porquê; é investigar qualquer assunto a fim de se aproximar de uma explicação satisfatória e nunca acreditar que alguém ou algum livro possua todas as respostas exatas, seja sobre arte, vida, sociedade ou qualquer assunto. A filosofia nasce do desejo de saber, de conhecer, e por tanto, é algo inerente ao ser humano.

Bibliografia: .

_ MORENTE, Manoel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. 8 ed. Mestre Jou, 1980.
_ DURANT, Will. A História da Filosofia. 4 ed. Nova Cultural Ltda, 1996.

Ter e Ser

Não é difícil observarmos que muitas pessoas se preocupam bastante em exibir roupas e adereços que simbolizam, em nossa sociedade, nível social elevado. Determinados cortes de cabelo, certos estilos de roupa, modelos de celular, modelos de carro... São preocupações constantes na vida cotidiana das pessoas que sentem necessidade de estarem na moda ou de pelo menos mostrarem-se pertencentes a determinado nível ou grupo social.
Consumismo ostentatório é o termo que define esse tipo de comportamento. O desenvolvimento dos meios de comunicação aliados aos mecanismos de obtenção de lucro do capitalismo constituem fatores importantes que contribuíram e contribuem para o surgimento desse tipo de pensamento. Diariamente somos bombardeados pelas propagandas que tem por objetivo nos fazer crer que somos aquilo que vestimos; que o modelo do nosso celular é o que define a nossa personalidade; que a marca do tênis ou do relógio dão pistas sobre quem somos. Frases como “Você é o que veste” ou “Use a alma para o lado de fora” são exemplos de slogans usados pela indústria da moda. Esse tipo de mensagem nos acompanha durante toda a vida e acabamos acreditando que são verdadeiras.
Em uma sociedade consumista, o valor do “ter” supera o valor do “ser”. Preocupados com o que podem comprar, as pessoas se esqueceram da importância do aperfeiçoamento pessoal, do caráter e da personalidade. Esqueceram que mais importante que os bens que ostentam, são os valores morais que possuem. Isso é refletido, por exemplo, nos relacionamentos afetivos dos casais. O homem passou a se preocupar mais com o aspecto físico da mulher do que em saber se ela pode ser uma boa companheira. A mulher se preocupa mais em conhecer a condição financeira do homem do que em saber se ele é honesto e confiável. Esses relacionamentos possuem uma característica dos bens de consumo: rapidamente se tornam obsoletos. Ele e ela logo sentirão necessidade de trocar o parceiro por outro.
Pessoas que entendem que o caráter tem prioridade sobre a aparência e os bens materiais têm mais chances de serem felizes independente da situação financeira que possuam. O que as motiva é a valorização do que está por dentro e não da parte externa e visível.
O passo mais importante para o aperfeiçoamento do caráter é o autoconhecimento. O esforço sincero para conhecer a si mesmo renderá reflexões e esse será o ponto de partida do aperfeiçoamento pessoal. Conhecer a si mesmo não significa apenas estar ciente dos seus medos, suas fraquezas, suas qualidades e gostos. É uma eterna busca de mecanismos e conceitos úteis para extirpar vícios e cultivar virtudes. É desenvolver uma consciência sobre o nosso papel na sociedade e agir de acordo. É desenvolver maturidade para lidar com problemas, é ver além da imagem e da superfície, é saber como conseguir força de vontade e coragem diante de dificuldades. Enfim, significa nos preocuparmos mais com quem realmente somos e menos com o que pensam de nós.