A Presença da Crítica nos Direitos Sociais.

Os direitos sociais são direitos. Direito não é favor ou bondade de quem detêm o poder, é antes de tudo direito. Qualquer pessoa pode e deve reivindicar seus direitos, lutar por eles, para que sejam cumpridos e respeitados.
Quem não exige seus direitos acaba se prejudicando e facilitando a vida de quem torce e luta contra eles. 

Pessoa Humana: Fonte e Raiz do Direito.

Assim está na Constituição Brasileira: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”[1].
Ao nascermos, já entramos neste mundo com direitos. Já somos sujeitos, raiz e a fonte do direito. O direito tem seus fundamentos na dignidade e na liberdade de cada pessoa humana.
Os Direitos sociais são direitos de todos. A criança que nasce, pelo fato de ser pessoa humana, nasce com o direito fundamental que é o direito à vida. “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos[2]”. Não o direito de sobreviver, mas o direito de viver com dignidade. Os Direitos sociais são algo próprio de todo ser humano.
Nascemos no seio de uma família, que por sua vez, existe dentro de uma sociedade organizada e regida por leis. As sermos registrados, adentramos mais propriamente, numa organização social. Nossos pais assumem compromissos para conosco, mas de forma alguma perdemos a liberdade – que é uma qualidade que ninguém pode tirar de nós, sem antes cometer uma terrível violência.
A liberdade, porem encontra limites nas regras que definem nossos direitos. Cabe a cada um ir tomando conhecimento delas, aceitando-as ou exigindo que elas sejam melhoradas.
Os direitos básicos reconhecidos e defendidos pela Constituição Brasileira: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição[3]”. O poder público, portanto, desde o municipal até o federal tem a obrigação de prever recursos para garantir e assegurar os direitos fundamentais de todas as pessoas.
Todavia, as grandes desigualdades sociais, as injustiças, a pobreza e a miséria colocam em risco a garantia dos nossos direitos. Não custa nada olharmos as filas infernais nos ambientes "públicos" como nos hospitais -que por falar em hospital - hoje acontece um acidente em frende um hospital, mas se o cidadão não tiver um plano de saúde, é capaz até de morrer, já há quem diga que a saúde pública está doênte. A maioria das estradas, principalmente aqui para a Região Norte, é uma vergonha generalizada, enfim.
Há um modelo econômico e um sistema de leis para manter e consolidar os privilégios dos ricos, impedindo os pobres de superar a pobreza.
Mas, num país tão rico como o Brasil, os direitos sociais básicos, citados à cima, não são respeitados e reconhecidos para muitos. Isso porque vivemos numa sociedade onde o capital, o dinheiro, a riqueza tem mais valor do que a pessoa humana. Tudo funciona como se o sentido da vida fosse de ter sempre mais, de acumular riqueza e poder, mesmo se o outro ao meu lado sofre e morre na miséria.
Nas sociedades atuais, infelizmente, não são garantidos todos os direitos sociais para e com todas as pessoas. São marcadas pelas diversas desigualdades no campo econômico, político e social. Tudo isso é um sinal claro que vivemos numa sociedade que viola alguns dos nossos direitos, quando não deveria, pois a finalidade do Estado é promover o bem comum, o bem público.
A política, que deveria favorecer, no sentido do cumprimento dos direitos, infelizmente, é movida pelo capital, por isso, as decisões políticas são tomadas em benefício do próprio capital, quando deveriam facilitar o acesso de todas as pessoas aos seus direitos.
Os direitos sociais são fundamentais, não são apenas enunciados sem força normativa, presos ao acaso da boa vontade dos legisladores, são normas constitucionais de suma importância e precisam ser cuidadosamente protegidos. A negação de tais direitos às pessoas significa o encarceramento dos direitos fundamentais que são os pilares do Estado Democrático. Aqui, o criticismo é importantíssimo enquanto defensor da busca de um conhecimento vigilante da realidade, aquele comportamento que não quer deixar passar o que é importante que seja conhecido, sem antes, examinar e procurar entender seu significado mais profundo e sua utilidade. É preciso conhecer e exigir os nossos direitos!
A cultura brasileira, no que diz respeito à reivindicação e à crítica, tendo em vista à execução dos direitos sociais, ainda caminha muito lentamente. Talvez por tradição do desconhecimento dos direitos, vivemos uma democracia – se é que a vivemos – muito representativa e pouco participativa. Entende-se por democracia participativa onde os cidadãos conhecem os seus direitos e em ação conjunta lutam para que eles sejam cumpridos.
A participação ativa da população em nome de seus direitos é fundamental para que o texto constitucional saia do discurso às vezes demagógico e passe à prática. Os direitos sociais possuem em si, um projeto fascinante, mas precisamos sair do plano jurídico-formal para o campo sócio-econômico. Nisso reside à beleza e a prestabilidade dos direitos sociais.
Precisamos assumir uma postura criticista, onde assumimos o desafio de defender os direitos, já reconhecidos e garantidos, e lutar para ampliá-los.
Partindo do princípio de que somos sempre sujeito de direitos e nunca vítima das leis e das instituições, chagamos a conclusão que o poder também está em mim assim como em todas as outras pessoas.
A democracia permite para todas aquelas nações que a vivem, um poder instituído pela representação, que ao mesmo tempo, pela participação pode ser removível. Estabelecemos um tempo determinado a um governante (quatro anos no nosso caso) e dentro desse período se ele não corresponder aos anseios da população seu poder será pedido de volta e dada a outro que for confiado novamente. Está na própria constituição brasileira. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta constituição[4]”. Isso se chama democracia por participação na representação.
O mesmo acontece com a lei. Ela não é a fonte do direito – mas as pessoas, portanto, se a lei não estiver a serviço de todos e para o bem de todos, ela pode e deve ser reescrita ou até mesmo removida. Porque a lei é pública, e tudo aquilo que é publico é criado por todos para o serviço de todos.
Lamentavelmente, a nossa educação política, na verdade nunca existiu, foi sempre uma deseducação exatamente para não exercermos o nosso poder e o nosso direito.
A atitude criticista instiga-nos a uma trabalhosa investigação e chegamos a concluir que o povo enquanto sujeito de direito acaba sendo vítima. Basta fazermos algumas perguntas: onde está a educação de qualidade a todas as pessoas? Todos moram dignamente? Como está a segurança dos brasileiros? Todos gozam do direito de trabalhar? – Hoje, trabalhamos na medida em que o mercado necessita de mão-de-obra humana. Não porque o trabalho seja um direito nosso.
Diante do exposto, podemos concluir com muita propriedade que direito é sempre direito, é, portanto, inconfundível com favor. A sociedade brasileira é muito bem amparada por leis, porem, ainda desconhece que as tais que lhe garante seus direitos. Precisamos fomentar em todas as pessoas e em todos os lugares a cultura da lei e do direito, não dá mais para vivermos como se não fossemos a fonte e a origem do direito.

[1] Constituição Brasileira, Capítulo 1, Artigo 5º.
[2] Declaração Universal dos Direitos Humanos.
[3] Constituição Brasileira, Capítulo 2, Art. 6o.
[4] Constituição Brasileira, Título I - Dos Princípios Fundamentais, Parágrafo único.

As Cinco Vias de São Tomás de Aquino.

TOMAS DE AQUINO – (1221-1274), marcou o ponto culminante da escolástica medieval. É considerado unanimemente como o maior dos filósofos medievais.

Tomás de Aquino formulou e expões cinco argumentos, também chamados por ele de vias, para demonstrar a existência de Deus. Tomás elaborou provas originais fundamentadas nos princípios metafísicos do ser. Tais vias foram redigidas a partir da leitura de autores como Avicena, Platão, São João Damascena e, sobretudo de Aristóteles.
Para Tomás, Deus é o primeiro na ordem ontológica. Mesmo sendo o fundamento de tudo, Deus deve ser alcançado por caminhos a posteriori, isto é, partindo dos efeitos e do mundo.
Deus precede suas criaturas como as causas precedem seus efeitos. Ele é alcançado a partir da consideração do mundo, que remete ao seu autor.
As vias são demonstrações que partem de diferentes aspectos das criaturas enquanto seres conhecidos pela experiência que remetem a Deus como causa. Tomás expôs as cinco vias no exercício racional e demonstrativo, para entendê-las não precisamos entrar na dimensão da fé, são argumentos puramente racionais.

1ª. Prova pelo Movimento.

Com notável clareza expôs ele a prova tirada do movimento, partindo do pressuposto de que “tudo o que se move é movido por outro”.
Raciocina então: “se aquilo pelo qual é movido por sua vez se move, é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra. Mas não é possível continuar ao infinito; do contrário, não haveria primeiro motor. É preciso chegar a esse primeiro motor que não seja movido por nenhum outro, e por este todos entendem Deus”.
Santo Tomás considera esta a prova mais manifesta de todas. Para bem compreendê-la, porém, é importante ter em mente a noção de movimento, é o princípio geral em que se baseia a prova.
O termo movimento não designa apenas o deslocamento de um lugar para outro, mas, em geral, toda passagem da potência ao ato, isto é, de uma modalidade de ser a outra. O que há de essencial no movimento é a passagem, o que faz do movimento uma realidade que participa a um tempo do ato e da potência. O movimento é, então, o sinal e a forma do que se chama em geral o vir-a-ser.
Toda a questão estará então em descobrir o que torna inteligível, quer dizer, o que explica o vir-a-ser. Para isto vai-se recorrer ao princípio, estabelecido na Ontologia, segundo o qual "tudo o que se move é movido por outro", quer dizer que nada passa da potência ao ato a não ser sob a ação de uma causa já em ato, o que significa, mais resumidamente, que nada pode ser causa de si mesmo.
Em virtude do princípio precedente, Santo Tomás estabelece que o “movimento exige um primeiro motor” – o que não é mais do que uma aplicação do princípio geral da inteligibilidade do vir-a-ser. Contudo, diz ele, “é evidente (e nossos sentidos o atestam) que, no mundo, certas coisas estão em movimento. Ora, tudo o que está em movimento é movido por um outro. É impossível que, sob o mesmo aspecto, e do mesmo modo um ser seja a um tempo movente e movido, quer dizer que se mova a si mesmo e passe por si mesmo da potência ao ato. Logo, se uma coisa está em movimento, deve-se dizer que ela está movida por uma outra. E isto porque, se a coisa que move por sua vez se move, é necessário, por outro lado, que ela seja movida por uma outra, e esta por uma outra ainda. Ora, não se pode ir assim ao infinito, porque não existiria então motor primeiro, e daí se seguiriam que não existiriam tampouco outros motores, pois os motores intermediários não movem a não ser que sejam movidos pelo primeiro motor. Logo, é necessário chegar a um motor primeiro que não seja movido por nenhum outro”. E este primeiro motor, para Tomás de Aquino, é Deus.

2ª. Prova pela Causalidade.

A segunda via é a da causa primeira universal. Eis o texto de Tomás de Aquino na Suma Teológica:
“Constatamos no mundo sensível a existência de causas eficientes. É, entretanto, impossível que uma coisa seja sua própria causa eficiente, porque, se assim fosse, esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum sentido. Ora, não é possível proceder até o infinito na série de causas eficientes, porque, em qualquer série de causas ordenadas, a primeira é causa intermediária e esta é causa da última, quer haja uma ou várias causas intermediárias. Com efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito: portanto, se não há causa primeira, não haverá nem última, nem intermediária. Ora, se fosse regredir até o infinito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa primeira, e, assim, não haveria também nem efeito, nem causas intermediárias, o que é evidentemente falso. Portanto, é preciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o mundo chama Deus” (Suma Teológica de Santo Tomás).
Diante dos argumentos categóricos de São Tomás, constata-se que há uma Causa absolutamente primeira. Na prova pelo movimento, colocamos do ponto-de-vista do vir-a-ser fenomenal. Aqui, encaramos a causalidade propriamente dita. Tudo o que se produz, como dissemos, é produzido por outra coisa, senão, o que é produzido seria causa de si mesmo, ou seja, seria anterior a si, o que é absurdo. Concluímos daí, por exclusão da regressão ao infinito, que há uma Causa absolutamente primeira, fonte de toda causalidade.
Esta Causa primeira é transcendente, a todas as séries causais. Em outras palavras, ela não pode ser um elemento da série das causas. Com efeito, se ela não fosse mais do que o primeiro elemento da série das causais, seria necessário explicar como este primeiro elemento teria começado a ser causa, quer dizer que, em virtude do princípio de que nada se produz a si mesmo, seria necessário recorrer a uma causa anterior a que se desejaria considerar como primeira, o que é contraditório. É preciso, então, necessariamente, que a Causa primeira transcenda, quer dizer, que ela ultrapasse e domine todas as séries causais, que ela seja causa por si, incausada e incriada.
A coleção dos pensadores, volume sete, assim fala:
“Toda causa é por sua vez causada; esta também o é e assim por diante, pois nada pode ser causa de si mesmo. Isto leva de novo à conseqüência, que o recurso a uma série infinita de causas nada explica (pois, não havendo causa primeira, também não haverá média e última; isto é, uma série infinita de causas não pode ser transposta). Logo devemos chegar a uma causa primeira, a que todos dão o nome de Deus” (Coleção dos pensadores v. 7, 1973).
No pensamento de Giovenni Reale, “Tomás pretende achar a razão da existência da causalidade eficiente no mundo. E isso é impossível enquanto não se chega a uma causa eficiente primeira, isto é, uma causa que produz e não é produzida”. O argumento, portanto, ainda segundo Reale, se baseia em dois elementos: “por um lado, todas as causas eficientes causadas por outras causas eficientes; por outro lado, a causa eficiente incausada, que é a causa de todas as outras causas”.
Por este texto se percebe a clareza com que Tomás de Aquino expõe o seu raciocínio. Com rara habilidade intelectual ele procura o motivo da existência da causalidade no mundo. Assim se chega infalivelmente a uma causa que produz e não é produzida, ou seja, a causa eficiente primeira que é Deus.

3ª. Prova pela Contingência.

Esta nova prova de São Tomás, parte do fato de que o mundo físico é composto de seres contingentes, ou seja, de seres que são, mas poderiam não ser e um dia foram formados.
Seguindo o raciocínio tomista, os seres contingentes não possuem em si mesmos razões de sua existência. Os seres contingentes devem, portanto, ter, num outro, a razão de sua existência, e, este outro, se também é contingente, também tem a sua num outro. Mas não é possível prosseguir assim ao infinito: de ser em ser, devemos chegar, afinal, a um ser que tenha em si mesmo a razão de sua existência, quer dizer, a um ser necessário, que exista por si, e pelo qual todos os outros existam.
Este ser necessário, que existe por sua própria natureza, e que não pode não existir, para Tomás, é Deus.
Eis como o filósofo Josef de Vries, (1898-1989), resume esta prova da existência de Deus proposta por Tomás de Aquino:
“A prova cosmológica, baseando-se no nascimento e desaparecimento das coisas, conclui a contingência das mesmas, e partindo da mutabilidade própria também dos elementos constitutivos fundamentais cuja origem não pode ser mostrada experimentalmente, infere sua natureza também contingente, provando dessa maneira que o mundo todo é causado por um Ser Supramundano” (Vries, 1980)Buchgesellschaft, Darmstadt 3.. Aufl. 1980
Este é o Ser Necessário que existe por sua própria natureza e não pode nunca deixar de existir. As criaturas nascem, crescem e morrem, são possíveis, não necessárias, ou seja, existem, mas não necessariamente. Se em algum tempo não tivesse havido nada de existente, teria sido impossível para qualquer coisa começar a existir, e, deste modo, também neste caso nada existiria o que seria um absurdo. Existe, portanto, um Ser Necessário que é Deus que preexistiu todas as coisas, todos os seres.

4ª. Prova pelos graus de perfeição dos seres.

Na quarta via para provar a existência de Deus, Tomás se vale dos graus de perfeição existentes nos mais variados e diferentes seres. Falamos do aspecto de beleza que as coisas manifestam diferentemente.
Um ser é belo, outro é menos belo, outro já é mais que o primeiro, e etc. Diremos: se a beleza se encontra em diversos seres segundo graus diversos, é necessário que ela seja produzida neles por uma causa única. É impossível que esta qualidade comum aos diversos seres pertença a estes em razão de suas próprias naturezas – eis o raciocínio de Tomás. Pois, do contrário, não se compreenderia por que a beleza se encontraria neles, ora em maior, ora em menor quantidade. O fato de que há diferentes graus de beleza obriga então que os diversos seres em que descobrimos estes graus participem em comum de uma Beleza que existe fora e acima desta hierarquia de beleza, e que é a Beleza absoluta e infinita.
“Os seres são mais ou menos perfeitas em relação a um ser absolutamente perfeito que possui o ser de modo absoluto. Se os seres não derivam a perfeição de suas próprias essências, caso em que seriam sumamente perfeitos. E se não derivam de suas respectivas essências, isso significa que receberam de um ser que da sem receber, que permite a participação sem ser partícipe, porque é fonte se tudo o que existe de algum modo” (Reale 1990).
Desta realidade se deduz a existência de um ser ilimitadamente perfeito e belo, de onde emana toda a perfeição e beleza. Nos seres existem perfeições simples e limitadas, uma perfeição participada e causada por um ser perfeitíssimo e belíssimo.
Este argumento se aplicaria validamente a todas as perfeições ou qualidades, que podem ser levadas ao absoluto. O primeiro princípio deve, então, ser necessariamente um Ser perfeito.
Sob esse aspecto, estabelece que os seres que possuem graus desiguais de perfeição não têm em si mesmos a razão última desta perfeição, e que esta não pode explicar-se senão por um Ser que a possui absolutamente e essencialmente, enquanto que todo o resto a possui apenas por participação.
Sendo real a existência de perfeições simples e limitadas, real também deve ser a existência da causa de tal perfeição, ou seja, daquela perfeição perfeitíssima que existe por si mesma da qual todas as coisas perfeitas participam.
São Tomás de Aquino chegou à conclusão que Deus é a perfeição perfeitíssima e que todos os seres O imitam, pelo fato de participarem limitadamente de Sua perfeição. Ele é a fonte de tudo aquilo que existe de algum modo perfeito. Ele é a perfeição infinita, absoluta. É um ser perfeito sob todos os aspectos que se possam imaginar. Nele se realizam com perfeição suprema todas as possibilidades do ser perfeito.

5ª. Prova pela ordem do mundo.

A quinta via apontada por Tomás de Aquino como prova da existência de Deus é a do finalismo, ou seja, do governo do mundo.
A organização complexa, objetivando um fim, exige uma inteligência ordenadora. Com efeito, apenas a inteligência pode ser razão da ordem, quer dizer, da organização dos meios objetivando um fim, uma finalidade dos elementos tendo em vista o todo que compõem.
São Tomás percebeu que os corpos existentes ignoram os seus fins, mas nem por isso os elementos corporais se transformam num grande caos. É necessário, porem, que essa organização tenha sido obra de uma inteligência, essa foi à conclusão que Tomás pode chegar.
Jolivet, filósofo Frances, (1905-1974) resume esta quinta via deste modo:
“No conjunto das coisas naturais verificamos uma ordem regular e estável. Ora, toda ordem exige uma causa inteligente, que adapta os meios aos fins e os elementos ao bem do todo. Portanto, a ordem do mundo é obra de uma Inteligência ordenadora, transcendente a todo o universo” (Col. Os Pensadores, v.7, 1973).
Tal argumento parte do fato da ordem universal, do cosmo. Esta ordem é evidente: considerado no seu conjunto, o universo nos aparece como uma coisa admiravelmente ordenada, em que todos os seres, por mais diferentes que sejam, tendem para um fim comum, que é o bem geral do universo. Por outro lado, cada um dos seres que compõem o universo manifesta uma finalidade dentro do próprio universo.
Fica evidente que esta ordem é inteligente, unicamente pela existência de um princípio inteligente, que ordena todas as coisas a seu fim, e ao fim do todo que elas compõem. É isto que resulta do princípio demonstrado mais acima. É necessário, então, admitir que exista uma Causa ordenadora do universo.
Deve-se admitir que haja ordem e finalidade no mundo, logo, deve haver uma inteligência suprema, razão explicativa dessa finalidade. De acordo com Giovanni Realle, “é interessante notar-se que Tomás não duvida nem um momento que as suas reflexões filosóficas o tenham levado a Deus”.
Esse Ordenador, portanto, São Tomás de Aquino afirma ser Deus.

Conclusão.
Tendo em vista os argumentos apresentados, fundados e fundamentados nas cinco vias de São Tomás de Aquino que comprovam a existência de Deus, podemos concluir com ele que Deus é a causa que ninguém causou; motor que ninguém moveu; causa que não teve causa; causa não causada; motor que não foi mexido.
Na sucessão dos moventes, chega-se a Deus, Motor Imóvel e Movente de todos os outros. Do ponto de vista lógico, no começo das causas causadas existe uma que jamais foi causada. Esta jamais tem potencia, ato puro.
Quem está no começo é aquele que não tendo causa, causou a primeira de/e todas as outras causas.

Referências Bibliográficas

REALE, Giovanni / Dario Antiseri, História da Filosofia. São Paulo/SP, Paulus, 1999.
Gilson, E. A Filosofia na Idade Média, São Paulo, Martins Fontes, 2001.
Boehner, Ph. e Gilson,E. A História da Filosofia Cristã, 1985.
Col. Os Pensadores, v.7 (Sto. Anselmo e P. Abelardo), São Paulo, Abril, 1973.
VRIES de Josef, Conceitos Básicos da Escolástica, Munique, Wiss, 1980.

As lágrimas da Amazônia.

Se a devastação na Amazônia hoje, é um fato escandaloso, não é culpa dos índios, nem dos caboclos e muito menos dos colonos. Pobre não destrói a floresta. A amazônia é devorada por aqueles que chegam, tomam posse, devastam violentamente e fazem mundos de fazendas e na maioria das vezes ainda gazam da benção do governo.

A Amazônia, imenso e bonito jardim que comporta a maior biodiversidade do planeta, onde “nossos bosques tem mais vida” como decanta o hino nacional brasileiro, abriga desde os tempos ancestrais dois preciosos patrimônios: o patrimônio florestal e o humano. Todavia, ambos estão sendo vítimas da tirania capitalista, e lamentavelmente, a maior riqueza da Amazônia, que é o homem amazônida é o mais ameaçado.
O Brasil tem anseio por crescer e tem potencial para se desenvolver, porém, não pode esquecer que, o que nos faz ser portadores de uma riqueza ímpar, é o nosso patrimônio ambiental, que gradativamente está se extinguindo.
Todo brasileiro sabe, que a Amazônia merece mais atenção do governo brasileiro do que tem recebido. E é do conhecimento de muitos que o território amazônico é muito frágil e exige cuidados. O solo da Amazônia é pobre em relação à cultura que lhe é cultivada. A partir do terceiro ano de cultivo, a terra não tem mais o mesmo potencial de regeneração, quanto às terras nordestinas – por exemplo. Mas, a grande chaga que está impressa nesse território chama-se fazenda. Os grandes fazendeiros além de devastarem demasiadamente a floresta, investem na monocultura. Vê a pecuária como a única alternativa. A floresta é devastada, o capim é plantado e como a terra é frágil, depois de alguns anos é preciso aumentar a fazenda, porque o capim não cresce tanto quanto antes.
Se a devastação na Amazônia hoje, está como está não é culpa dos índios, nem dos caboclos e muito menos dos colonos. Pobre não destrói a floresta, a amazônia é devorada por aqueles que chegam, tomam posse e fazem mundos de fazendas e muitas vezes gozam da benção do governo. Fazendeiros e madeireiros, esses sim devastam, destroem e acabam. Os pobres permanecem no local, enquanto estes se quer, moram aqui, portanto a casa não pertence a eles. O que acontecer depois, com o solo devastado que se dane o importante para eles é o lucro.
Mesmo cientes de tudo isso, diariamente os jornais do mundo inteiro notificam sempre as mesmas coisas, um esteriótipo negro já é concebido quando se ouve falar de Amazônia. Desmatamento, queimadas, latifúndio e invasões.
Em fevereiro deste ano, o Brasil inteiro acompanhou com tristeza e preocupação e o mundo todo ficou sabendo da Operação Arco de Fogo, feita pala Polícia do Pará e Polícia Federal, em Tailândia, nordeste paraense, que desencadeou na apreensão de 50 MIL METROS CÚBICOS DE MADEIRA. Isto numa única cidade paraense, que possuía nada menos que 147 serrarias e mais de 1000 fornos de fazer carvão. Para se ter uma idéia do crescente índice de desmatamento na região, o SAD (Sistema de Alertamento de Desmatamento), publicou os seguintes dados:
De agosto de 2006 a julho de 2007 foram desmatadas 11,200 km² de floresta.
De agosto de 2007 até o final de março deste ano, o desmatamento chegou a 4.732 km².
Só no Pará e somente de janeiro a março do ano corrente, foram 65 km² de floresta devastada.
Um outro problema grave que ronda a este chão é a implantação de grandes projetos, e de maneira particular, as hidrelétricas, que enchem os olhos da Amazônia da lágrima e de escuridão.
Já está em pauta, e prestes a ser executada a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Esse projeto não é novo, e os que o defendem alegam a necessidade de energia para abastecer as grandes indústrias do Sul e Sudeste, mas, na verdade – e nem todo mundo sabe – que os principais interesses são para apoiar os grandes projetos na Amazônia prevista no PAC e as grandes mineradoras que tambem gozam da benção do Governo Federal. O mais interessante é que, existem famílias que moram debaixo das redes elétricas, mas, se quer, tem acesso à luz, vivem à exclusão e à escuridão.
No atual projeto de Belo Monte, a área a ser alagada seria de 440 km² a 590 km² (varia da época do ano) e boa parte das áreas ribeirinhas da cidade de Altamira seria inundada. Um total de 2.000 FAMÍLIAS NA PERIFERIA URBANA de Altamira teria que se mudar, além de 800 FAMÍLIAS NA ZONA RURAL e 400 FAMÍLIAS RIBEIRINHAS.
Além das áreas alagadas pela barragem uma extensão de 110 km ao longo da volta do grande do Xingu ficaria praticamente seca. E o povo que mora às margens, vai viver de quê? – Uma vez que o rio é o eterno “supermercado”. Como essa gente vai se locomover? – Se o barco é o ônibus e as canoas, (os cascos como eles chamam) são os táxis.
É muito séria essa questão. Quando eu escrevia tais parágrafos, pensava comigo mesmo: porque que isto não é publicado na imprensa? Porque que os índios, os ribeirinhos, os caboclos são tidos como empecilhos para o “progresso” interesseiro e desumano? Pelo menos é esta a mentalidade que os tendenciosos meios de comunicação de massa passam para o espectador. E às vezes temos memória curta. Não sabemos fazer uma crítica de tais questões. Não questionamos nada, parece até que tudo está certinho, a mil maravilhas...
É impressionante como a sensibilidade e a humanidade de muitas pessoas, sedem espaço ao dinheiro e a ganância. Se o Governo Federal executar o que já está prescrito, toda essa gente: senhores, senhoras, jovens, crianças... Será remanejada a outras áreas de ocupação, ocasionando assim o êxodo-rural, inchando as periferias das cidades, expondo as pessoas à pobreza, os jovem à marginalidade, às jovens à prostituição... Enfim, imaginemos, pois, o que um índio vai fazer na cidade grande a não ser sofrer? O que uma senhora que conviveu com a harmonia da natureza quase a vida toda, vai fazer num caos sonoro, meu Deus?...
É inadmissível! Creio que o progresso não justifica o sacrifício de muitos indefesos.
Algo faz o povo se calar.
Mas eu queria que você se atentasse ao seguinte: Você acha que esse povo não grita, não reclama e “morre” de medo de perder esse governo, é porque aprova tais ações ou tem um “x” nessa questão?
Eis o porquê: a política assistencialista, adotada por esse atual governo, põe um bombom na boca do povo sofredor, que vem sendo vítima da tiranias anteriores. Um bombônzinho em forma de bolsa-cabresto e torna os pobres vulneráveis e dependentes, numa situação de escravidão moderna, por medo de perder o “feijão do sul” se calam. Assim o povo é marionetizado, barriga cheia e cabaça vazia. Nada contra essas pessoas simples e desinformadas, eu as entendo, elas são vítimas e, lamentavelmente não percebem.
O povo da Amazônia quer viver, não de esmolas e de favores, mas dignamente com cidadania e liberdade.
Por trás de tudo isso, percebe-se com muita clareza a irresponsabilidade social do Governo Municipal, Estadual e principalmente Federal, por não oferecerem alternativas para a população viver de maneira mais digna. À comunidade não é proporcionado um outro modelo de cultura da madeira. O Manejo Florestal, por exemplo, que consiste no uso inteligente da floresta, (corta-se as árvores adultas e preservam-se as jovens) esta sim, é a única garantia de sustentabilidade social e de preservar a floresta em pé. Também a falta de vontade política não possibilita que as terras sejam regularizadas através da Reforma Agrária. Assim a terra tende a se concentrar nas mãos de poucos e deixa a população cada vez mais dependente.
Na Amazônia, não é oferecido aos colonos projetos para o cultivo de outras culturas, uma vez que o milho, a mandioca, o arroz e outros não são mais compatíveis a terra, porque que não é financiado e oferecido aos nossos caboclos o cultivo de maracujá, de mamão, de hortaliças e de tantas alternativas que possibilitaria de todos trabalhem menos, ganharem mais, e o melhor, em pouco espaço, o que significaria a não destruição da floresta. O que não dá, e definitivamente não dá, é ver os colonos serem despojados de suas terras e os fazendeiros devastando impiedosamente.
Sou amazônida. Amo a minha Terra. Sinto-me tão feliz ao chegar à minha casa e acordar ouvindo os pássaros cantarem... Vê-los se sentirem protegidos pertinho da gente. Bem pertinho. Minha família ainda goza dessas coisas. Fico muito triste e angustiado com quem detêm o poder e nada faz em favor do povo pobre e humilde. Não acredito que ninguém sinta o cheiro da fumaça dos nossos açaizais, das nossas florestas em chama. Pergunto-me: quando que a pessoa humana ficará no centro e o dinheiro servirá para promover a vida e o bem estar das pessoas?
Mas eu tenho certeza que o jardim amazônico é criação de Deus, e Ele o guardará. Não somente guardará, como o salvará da destruição, juntamente com os povos o habitam.

Alfabetizar a política brasileira.

Se a população brasileira continua votando errado não é porque ela gosta de sofrer ou não queira mudar, mas por não ser formada e educada em tal campo. Tanto o povo quanto uma parte considerável dos políticos, infelizmente não sabem ao menos o essencial no terreno político.

Dias atrás, andando por um bairro periférico de uma cidade que faz parte da região metropolitana da Grande Belém, fui forçado a fazer uma reflexão acerca do modelo político brasileiro e a pensar nas graves conseqüências em virtude do analfabetismo político e na angustia daqueles que ainda acreditam que projetos bem arquitetados politicamente poderão salvar um país como o nosso.
Aproximadamente vinte crianças – incluindo alguns adolescentes – brincavam na lama depois de uma leve neblina. Isto mesmo, na lama, por falta de uma área de lazer. Uma bolinha furada, levada ao fogo e sarada era o instrumento usado por eles para fazerem à festa, naquele pequeno e indigno espaço que mais parecia ser um mangal.
Alguns deles – já tatuados – exibiam nos seus bracinhos, dragões e outras “mizuras”, cortes de cabelo de todas as cores e de todos os modelos, alem de um palavreado pra lá de vulgar, tudo isso exposto naquele pequeno e indefeso grupo.
Chamou minha atenção e eu me dirigi até a presença uma senhora que estava ali por perto e começamos a conversar. Eu fui provocando nela à conversa e o diálogo foi fluindo. Aquela senhora me contava que, naquele local imperava a violência, o tráfico, a bebida, a prostituição, e o pior, mortes aconteciam com muita freqüência e naturalidade.
Moram em verdadeiros casebres. Casas mal feita: sem acabamento, sem quintal, sem o mínimo de segurança... Sem estrutura. Desprovidas de quaisquer atributos que possa dignificar a vida das pessoas que ali moram.
Na volta para casa, eu fazia um debate interior: e os 40% de impostos que o cidadão paga em tudo que compra, aonde vai parar? É bom que saibamos que em tudo que compramos, 40% do valor bruto cai nos cofres públicos. Na compra de um carro de R$ 30.000, por exemplo, R$ 13.000 é destinados a impostos. E porque não financia casas aos pobres? Porque os fazer viver em gaiolinhas subumanas? Falta área de laser para as crianças. Porque não coloca infra-estrutura onde precisa?
Acredito que viver é bem mais do que esta vivo, fico imaginando o futuro de cada criança daquelas que ao som de festas, pedradas, tiros e gemidos mal podem dormir. Imagino a escola onde elas estudam, meu Deus.
O que parece mais viável e lógico para a maioria daqueles meninos: continuar estudando mesmo sabendo que não poderão pagar uma Universidade particular – uma vista que a educação recebida é de péssima qualidade para disputar uma vaga na Universidade pública – ou aderir o mundo do crime que se apresenta como uma proposta emergencial?
No Brasil, quando um presidente, um governador ou um prefeito assume o poder, ele trás consigo sua pasta contendo o seu planejamento debaixo do braço, pronto para começar a executar tudo do zero. Cada governo é independente do outro, não existe uma seqüência governamental. Cada um, forma sua equipe apta a defender os interesses daquele grupo detentor do poder. Infelizmente esta é a triste realidade.
Tal modelo é ridículo. Isto é algemar o progresso do país. É fazer refém a esperança de seus patriotas. É condenar ainda mais o brasileiro a viver à periferia de um país novo de pensamento novo. É só pesquisar os paises desenvolvidos e ver a diferença: existe um macro projeto do país, não do governo “a” ao “b”, isso não significa que o governante não possa fazer seus próprios projetos, mas não pode ferir a “espinha dorsal”, o projeto mestre.
Todavia, tais realidades aqui no Brasil, são entocáveis ninguém se atreve a comentar, e o que é mais triste: alunos do ensino médio das escolas brasileiras são privados de tais informações. A educação que temos não nos leva à revolução e conseguintemente a uma transformação.
Não custa nada dar um exemplo: nosso povo não seria capaz, em sã consciência, de se submeter a uma intervenção cirúrgica com alguém que não estudou a medicina, mas vota em candidatos que se quer sabe onde nasceu e qual a finalidade da política.
Se a população brasileira continua votando errado não é porque ela gosta de sofrer ou não queira mudar, mas por não ser formada e educada. Tanto o povo quanto uma parte considerável dos políticos, infelizmente não sabem ao menos o essencial no campo político.
Precisa-se estudar filosofia, sociologia e política nas três sérias do ensino médio. Eis o ponto de vista de um cidadão brasileiro que sonha com dias melhores para o seu país.
Com 16 anos o cidadão brasileiro já pode votar. Mas uma coisa não quer calar: ele foi preparado moralmente e eticamente? No terreno sociopolítico ele tem um senso crítico aguçado e apto, que o possibilite escolher com liberdade um representante sério e comprometido com o bem comum? Ele mesmo estaria preparado a concorrer uma vaga no legislativo de sua cidade?
Quais são as condições impostas pela constituição brasileira para que alguém possa exercer um cargo público? Pois é, eu também não sei. Mas sei as aberrações que acontece dentro do legislativo e do executivo. Aquelas crianças que mencionei acima, hoje, sem terem culpa alguma, sofre as conseqüências de tais desordens. Cadê o projeto descente que visa torná-las cidadãs livres, críticas e de pensamentos independentes?
Aquelas pobres vítimas são postas num mundo que as concebeu e as deixou a própria sorte. O atual modelo econômico tirou de seus pais até o merecido direito de trabalhar.
Fazer política é mais que uma aptidão a um cargo público ou uma necessidade neurológica de poder, é antes, colocar-se a serviço daqueles de quem se está fazendo a representatividade e assumir compromissos para com o País, o Estado ou o Município. O homem público dever ser moral, ético e ter uma postura exemplar. Deve ser no mínimo, diferente da maioria que atua, hoje, no Brasil.
Muitos brasileiros já não acreditam mais na política. Tratam-na com indiferença como se a ação política não tivesse o seu poder transformador, não sabem que na linha mestra que conduz um país democrático a ação política não é coadjuvante, mas protagonista. Isso precisa ser categoricamente aprendido ainda no ensino médio.
Precisamos mudar urgentemente quadro político brasileiro. O desafio é grande e o problema é muito grave. Eu diria que o desafio maior, hoje, não está somente na escolha de candidatos, mas em encontrar um candidato devidamente preparado e apto ao serviço.
O cidadão para se lançar candidato deve antes receber uma formação política que provoque nele amor à causa, sensibilidade para com a população e disponibilidade em servir e promover o bem comum. Entretanto, a política mal educada atual está elegendo candidatos que são verdadeiras tristezas e decepções no chão da responsabilidade, da verdade, da moral e da ética. São pessoas que aspiram cargos públicos exclusivamente para ganhar prestigio social, poder e dinheiro, além das vantagens pessoais em detrimento do bem comum.
Hoje, muitos votam simplesmente para não invalidar o título eleitoral, mas o voto é desprovido de qualquer compromisso para com a sociedade e para consigo mesmo. Já não acreditam, ou melhor, nunca acreditaram, não sabem nem o que significa o ato que acabam de fazer. A culpa não e de tais pessoas, mas de quem detém o poder e nada faz para educá-las.
Em vista de tudo que foi mencionado podemos concluir que: com pais educados politicamente e com uma boa formação política, os brasileiros: tanto eleitores quanto os eleitos, poderão conduzir o nosso país pelo melhor caminho, aquele calçado pela ética, pela justiça, pela segurança e pelo direito.

Educação, Mídia e Transformação Social.

O Estado brasileiro deve oferecer aos seus futuros professores uma educação digna para formação de mentes ricas, de brilhantes ideais e de pensamentos livres e independentes. E aos estudantes brasileiros uma educação que lhes permitam uma libertação integral.

Ser um sujeito educado e crítico no Brasil, está se tornando cada vez mais difícil. Pergunte-se, quem é o culpado? Sem respostas, provoca-se uma nova pergunta: é o professor que não se preocupa com o futuro de seus alunos? É o aluno que só quer passar de ano? Ou o governo que investe pouco na educação e forma mal os profissionais da área? A única certeza que temos é que: a passividade com que a educação é conduzida no Brasil, para quem quer se tornar uma potência, é altamente preocupante.
Estamos vivendo um tempo em que somos bombardeados de informações e ao mesmo tempo vivemos à escassez de um aprendizado sério que nos conduza a uma educação de qualidade e nos estimule a uma vivencia ética.
Se o meio acadêmico não forma, o ambiente cultural às vezes desumano, acaba deformando, e os meios de comunicação enquanto formadores de opinião não contribuem para isto, ao contrário, deformam mais ainda e agridem a consciência coletiva com ideologias que escravizam em nome da liberdade.
Como leitor de jornais, telespectador, usuário da internet, fico angustiado ao perceber as distorções e as tendências maliciosas que alguns desses meios de comunicação acabam fazendo ao noticiarem fatos que interessam determinados grupos econômicos ligados a eles. Está se tornando cada vez mais comum, casos que envolvem adolescentes serem enfatizados pelas grandes e pequenas mídias, o que muita gente não sabe é que, por traz disso está à busca pela legalização da menoridade penal.
Lotando as penitenciárias de jovens mal educados, vai resolver o problema? Eles conseguiram se regenerar em recintos sub-humanos como é o caso dos presídios brasileiros? Eu tenho minhas dúvidas.
A televisão mostra as favelas como fábrica de bandidos. Mostra o homem que vive lá, como uma ameaça, fazendo com que ele se envergonhe e tenha medo até de dizer onde mora, tornando-se mais um à margem do competitivo mercado de trabalho. Se ele é vítima, obviamente a tendência é fazer outras vítimas.
O aborto, hoje e tido como a salvação do mundo. Agora eu pergunto: é mais fácil eliminar o homem antes de ele nascer ou oferecer-lhe saúde, educação, segurança, alimentação e uma vida digna? Enquanto todos aplaudem a atitude do Governo, preocupado com a “saúde pública” o dinheiro que seria destinado a essas coisas, alguém sabe por onde anda? As rodovias com estão? As filas nos hospitais públicos, quem precisa sabe, sabem inclusive, como é a excelência do atendimento.
Mas a imagem televisiva é a melhor possível, o lado negro social é encoberto e só quem busca escutar o que ouve e enxergar o que ver, percebe. Se o Brasil é o país do futebol, porque então se preocupar em criticar governo? Não somos pentacampeões do mundo? Política é coisa chata! Não é a nossa praia.
Uma coisa é certa: o jornal escrito, a televisão, revistas e todos os outros meios que formam a cultura midiática são produtos do capitalismo e evidentemente estão a serviço do próprio capitalismo. Isto implica que só vai ao público aquilo que passou pelo “crivo” dos interesses políticos e econômicos ligados ao capital.
Todavia, essa leitura crítica e reflexiva dos meios de comunicação não é feita pela maioria das pessoas, falta uma educação de qualidade para a população, falta senso crítico, precisamos nos desprender daquele comportamento de rebanho onde todos fazem a mesma coisa, só porque esse ou aquele fez eu faço, ou ainda, fiz porque me mandaram fazer. A marionetização está impermeabilizada no tecido social, no cotidiano das pessoas, de tal modo que já não sabemos fazer mais nada espontaneamente, precisamos sempre de alguém para nos direcionar... E nisto a mídia é especialista. Encontrando-nos vulnerável a qualquer informação, atua com muito mais excelência.
Não custa nada uma simples exemplificação: as modas. Se a mídia propõe uma marca de roupas, automaticamente a sociedade adere e reprova os outros modelos e outras marcas. Posso ter o guarda-roupa superlotado (uma vez que já sou vítima do consumismo), mas embora eu trabalhe duro, mas vou adquirir porque quero “estar na moda”, além do mais, meu grupo de amigos (que também é vítima) vai me reprovar caso eu não me enquadrar naquele determinado estilo. Se uma grande empresa produz roupas, já rasgadas, como acontece, e compra seu espaço na vitrine virtual e persuasiva da mídia, ela me convence que eu tenho que usar roupas rasgadas, silenciosamente pago o dobro de uma roupa normal, mas como ficou bem nos comerciais vai ficar bem em mim também, e eu compro – sem reclamar.
A necessidade de vestir não é a necessidade da moda, da etiqueta.
A educação não é tudo, mas em tudo ela deve aparecer. Dizia Aristóteles, grande filósofo da Grécia Antiga, que o homem educado acaba fazendo o bem, concordo com ele e discordo de algumas campanhas feitas seja pelo Governo ou por outros grupos. A campanha da educação sexual, por exemplo, se a educação se restringe exclusivamente à educação sexual, ficarei em alerta neste campo, mas e os outros? Nas campanhas de conscientização ambiental, por serem emotivas, chega até chamar a atenção, mas ali se acaba por que não é uma educação propriamente dita, é uma orientação. A educação forma o homem integralmente.
A educação tem que formar o homem em todas as suas dimensões, de forma que o liberte do cárcere de sua ignorância, que o torne consciente de si mesmo, do outro e de tudo que diz respeito às diversas formas de vida e finalmente deve lhe levar a se tornar um ser responsável, tornando-se assim um ser ético. E como diz a filósofa brasileira, Marilena Chauí “ninguém é ético inconsciente”.
O Brasil garante o acesso ao ensino fundamental a todas, ou a quase todas as crianças, mas não garante a qualidade da educação, infelizmente. Este é o grande problema do nosso país que começa nas séries iniciais. Não basta que a criança passe de ano, é preciso que ela seja formada desde o jardim de infância até à universidade. O Estado brasileiro deve oferecer aos seus futuros professores uma educação digna para formação de mentes ricas, de brilhantes ideais e de pensamentos livres e independentes.
Mas, para degradar a educação mais ainda, o que é perceptível nas escolas brasileiras, ainda hoje com exceções, é claro, são professores que não educam. Reproduzem conteúdos, se iludem pensando que ensinam e os alunos se convencem que aprenderam. São verdadeiros reprodutores de teorias, não professores. Às vezes, não porque não queiram educar, mas pelo simples fato de não terem recebido uma formação séria para exercerem tal função. As universidades não preparam os professores adequadamente para a alfabetização, deixa sérias lacunas. Esta é a grande falha da educação brasileira, a deficiência na formação dos professores para séries iniciais.
Mais que muitos professores, as escolas brasileiras necessitam de muitos bons professores.
O senso comum diz que a boa educação é a base de tudo e começa em casa. Mas como educar um filho de pais que não receberam educação adequada? Como educar uma criança com fome e que enxerga na criminalidade a saída mais emergencial para resolver os problemas delas? Educar é um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Por ser justamente um processo é algo que demanda tempo e, principalmente qualidade.
E os nossos professores com estão, com maturidade psicológica e suficientemente preparados para tais desafios? Alguém pensou em prepará-los tendo em vista as diferentes realidades de seus alunos?
Paulo Freire, educador da década de 1990, que influenciou um movimento chamado de Pedagogia Crítica, diz o seguinte: "A educação já foi tida como mágica, podia tudo, e como negativa, nada podia. Chegamos à humildade: ela é a chave da transformação da sociedade". Quem sou eu para discordar de Paulo Freire, ao contrário, concordo, a educação é processo que gradativamente se concretiza e se assimila. Por si só, ela não é capaz de mudar a sociedade. Mas, a partir da educação, o indivíduo torna-se crítico e tem um posicionamento próprio. Daí tem a possibilidade de questionar as coisas da sociedade e, principalmente, o pensamento, tanto dos autores como valores culturais, que foram construídos antes dele. Só assim, depois de educado e crítico, será capaz de fazer revolução e de transformar. Para que a sua ação e intervenção sirvam de ponte para muitos sedentos de alternativas e desprovidos de criatividade intelectual.
A base da educação é o questionamento, daí é de se dar às boas vindas à filosofia e à sociologia que estão novamente integrando à grade do Ensino Médio no Brasil. O indivíduo educado questiona sempre. Pede um entendimento e numa resposta satisfatória às questões e procura estuda-las. Pode ser que essa resposta seja rápida ou demorada para ser concluída, porém é de extrema importância ser provocada.
Já no ensino médio, os professores devem começar a ter uma nova postura: excluir a decoreba da sala de aula e provocar a crítica nos alunos. Estudar o passado e falar da atualidade, por os pés no chão, nem todos os alunos serão astronautas...
Ser professor é algo que demanda muitas responsabilidades. É uma profissão que mexe com o imaginário do outro por ser um profissional que irá passar um conhecimento a quem ainda não o tem e o fará capaz de questionar aquilo que a pouco começou a entender. Penso que ser professor é ser um pouco de tudo: pesquisador, psicólogo, amigo e ser portador de humildade. Não basta simplesmente saber, tem que ter vocação e paixão em ensinar, pois o aprendizado é uma via de mão dupla.
Tenho uma admiração e um apreço grandioso para com os profissionais da educação, afinal, o que seria da humanidade sem os professores? Que pena que essa classe ainda não é vista e tratada com dignidade e respeito.
O professor, é aquele homem, aquela mulher que passou anos lutando bravamente em nome de um objetivo, e hoje, acorda cedo para transformar o mundo.
O futuro de um país está na educação de seus patriotas, educação essa que passa pela ação dos professores. Se tivermos professores devidamente aptos à educação, teremos alunos que se transformaram em cidadãos educados e preparados à condução e transformação do país.

Cosntruindo um Projeto de Vida.

Ter um projeto de vida é fundamental para quem quer escrever a sua história com maiores probabilidades de acertos e construir uma vida feliz
Intenções e desejos, não podem ser confundidos com um sonho, com um projeto de vida. Eles, não resistem ao calor, ao frio... Às tempestades da trilha existencial. São simplesmente inconsistentes e circunstanciais.
Projeto de vida não se constrói sentado à beira do mar das decepções, muito menos às chamas da vingança. Um projeto para a vida requer sobriedade, descanso emocional, liberdade para ser tecido e consciência de suas implicações. Pois, o arquiteto prudente constrói sobre a rocha.
As nossas intenções são simples inspirações momentâneas, que às vezes chegam até nós em função do brilho de alguém que soube construir um bom projeto para sua vida. Mas, peca gravemente que tem intenções desejosas e se ilude pensando ter um projeto de vida.
Quem sonha não perece, resiste às mais diversas provações... Tem objetivos definidos.
Sem sonho somos incertos, enveredamos por qualquer caminho e não somos capazes de resistir as interpéries da vida. Quem sonha ver um brilho à sua frente, um caminho a ser percorrido e uma meta a ser alcançada.
Para Augusto Cury, “os sonhos são como uma bússola, indicando os caminho que seguiremos e as metas que queremos alcanças. São elas que nos impulsionam, nos fortalece e nos fazem crescer”.
Se os sonhos são pequenos, nossas possibilidades de sucesso são limitadas. Desistir dos sonhos é abrir mão da felicidade, porque quem não persegue seus objetivos está condenado a fracassar. Para esse pensador, “os sonhos trazem saúde, equipam o frágil para ser autor da sua história, animam os deprimidos. Os sonhos fazem os tímidos terem golpes e ousadia e os derrotados serem construtores de oportunidade”.
Às vezes, nossos projetos são os únicos bons motivos para continuarmos à batalha, as únicas vias de acesso a um estímulo feliz quando ao temos mais chão para caminhar, nem ombros amigos para nos apoiar. Nessa hora quem não tem um sonho faz da vida uma arma, cuja vítima é a própria pessoa.
Algumas perguntas são fundamentais para sabermos se sonhamos se temos um projeto de vida.
Onde eu quero chegar?
Que caminhos tenho traçado para minha existência?
Quais são as minhas metas?
Minhas metas são consistentes ou me desfaleço delas com facilidades?
Tenho vontade de lutar pelo que amo?
O que é prioritário para alcançar essa meta?
Os sonhadores, e obviamente as sonhadoras, sabem que toda opção implica renúncias, sonha-se para uma coisa e dorme para as outras. Nenhum sonhador está imune de tais renúncias e perdas. Em nome de um projeto, são capazes de considerar supérfluo tudo aquilo que poderia distanciá-los de seus sonhos.
O sonhador foca tanto em seu objetivo que não é capaz de arriscar qualquer distração com coisas que para ele, são insignificantes.
Quem sonha ver o que aos olhos dos outros é impossível e até inexistente.

O Dualismo Humano.

Minha maior dor consiste em olhar para mim e não poder dizer quem sou...
Sei que sou, mas não sei quem sou...
O único conceito que tenho a meu respeito, é que sou um aconceituado...
Vivo à periferia do meu alto-conhecimento!
Não sei...
Decididamente, não sei...
De onde vim? Minha loucura é bem mais lúcida à resposta.
O que me precedeu? Sei que o mundo não começou comigo.
O turbilhão de tempo que virá depois de mim...
Pra onde vou?
...esta pergunta me deixa atônito, altamente estarrecido diante de um frustrado silencio sepulcral...

Porque que às vezes sou o que jamais seria?
Acabo sendo uma identidade estranha.
Hora a cabeça pensa o que o coração não quer...
Hora o coração quer e a cabeça o repreende...

Meus pés sapateiam o que minhas mãos afagaram...
Sou amabilidade e estupidez!
Luz e trevas!
Anjo e demônio!

Metade de mim brilha reluzente no azul dos céus...
Outra metade é esculpida pelo tempo tenebroso e errante...

Sou mistério...

Um mistério jamais entendido por minha espécie!
Sou doce e azedo!
Quente e frio!
Sou um dicionário e uma folha de papel virgem!
Lúcido em miniatura e gigantesco no terreno da loucura!

As forças que atuam em mim são alheias e estranhas. Transcendem minha capacidade racional.
Minha liberdade é o meu cárcere...
Vitima e rel. Sou eu!
O porco e a garça.
O visível e i invisível.
Sou o tudo e o nada.

Meu rosto às vezes, é estranho no espelho das circunstancias...
Um eu que não sou eu, age e assume a direção da minha trilha existencial...
Meu interior se antagoniza.
... ... ...
Ao ser concebido pela humanidade, adormeci. E dormindo:
Fui mordido pela contradição...
Nutrido pelo veneno da duplicidade...
Criado pelos opostos...
Meu sonho é acordar e ver em mim somente eu, para finalmente viver. Mas aqui na terra só quem goza do direito de despertar os outros é quem é imune de tais dualidades.
A terra vive em silencio!
Um dia a humanidade acordará.
Enquanto isso, um bom sono a todos...

Atitude Filosófica

O pensar filosófico é um pensar a trama dos acontecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está simultaneamente no mundo e fora dele. Explico. O filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, de situações corriqueiras, mas ele precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando depois, a fim de proporcionar a mudança e fazer a Filosofia acontecer com os que o cerca.

A Filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos ou um sistema fechado em si mesmo. Ela é um modo de pensar, uma atitude, uma postura diante do mundo descobrindo os seus significados mais profundos. A Filosofia é uma prática de vida que de forma reflexiva, busca compreender os acontecimentos do cotidiano alem de sua pura aparência.
A atitude filosófica nasce, principalmente, a partir da Inquietação, que acende no filósofo o desejo de ver e conhecer. Em segundo lugar vem a Admiração, pois é de onde deriva a capacidade de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza a Filosofia não como posse da verdade, mas como uma busca humilde, constante e dinâmica da essência.
Em terceiro lugar a Filosofia nasce de um sentimento de Angustia. Sócrates, o primeiro dos três grandes filósofos gregos (470-399a.c.), tinha consciência disto, por isso declarou: “Só sei que nada sei”. É exatamente esse não saber que impulsiona o filósofo e o conduz a estranhar desde as coisas rotineiras às mais complexas, pelo fato de não conhecer.
Seguindo estes mesmos princípios o filósofo francês Merleal Ponty (1908-1961), disse que “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”.
Para Kant, filósofo alemão do séc. XVIII, “Não há Filosofia que se possa aprender; só se pode aprender pensar filosoficamente”. Isto significa que a Filosofia é, sobretudo, uma atitude, um pensar permanente.
O pensar filosófico é um pensar a trama dos acontecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está simultaneamente no mundo e fora dele. Explico. O filósofo inicia a caminhada a partir dos problemas da existência, do dia-a-dia e de situações corriqueiras, mas ele precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando depois, a fim de proporcionar a mudança e fazer a Filosofia acontecer com os que o cerca.
Somos filósofos quando nos colocamos a pensar a realidade circundante de maneira crítica e responsável. Assim o filósofo aguça a sensibilidade e percebe metodologicamente as mazelas humanas e sociais e provoca aqueles que detêm o poder sobre as outras pessoas... A filosofia tem sido ao longo da história, fator de crítica e ensaio de alternativas para uma vivencia mais humana, mais harmônica e equilibrada. Por isso mesmo, tem incomodado muito. A própria história registra várias tentativas de desqualificá-la e até mesmo de destruí-la.
Os dominadores e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, coletiva e obediente. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo. Eis o porquê que a filosofia é temida. O dominador não quer que o dominado descubra os seus enigmas e suas ferramentas de opressão. Não quer que ele saiba nada além do “feijão com arroz”. O filósofo por sua vez, tem o pensamento como arma, não bomba e nem propostas escravistas. O filósofo teme a tirania política pelo seu poder sobre o destino do povo.
Cabe a nós o exercício do filosofar, isto é, apreender de forma significativa fazer uma leitura crítica da realidade. Já dizia o filósofo brasileiro Roberto Gomes “A Filosofia é a tentativa de enxergar um palmo diante do nariz. O que não é tão fácil, nem tão inútil quanto muitos pensam, afinal o peixe é quem menos sabe da água”.
A Filosofia é uma atividade humana indispensável, uma vez que a estrutura e a essência da realidade não se manifestam diretamente. Nesse sentido, a Filosofia é uma reflexão sistemática e crítica que objetiva captar a “coisa em si”, via pesquisas criteriosas conhecer a estrutura oculta das coisas e dos fatos. Sobre essa questão Nietzsche, filósofo alemão (1844-1900) escreveu o seguinte “Todo homem que for dotado de espírito filosófico há de ter o pressentimento de que, atrás da realidade em que existimos, se esconde outra muito diferente e que, par seqüência, a primeira não passa de aparição da segunda”.

Criticidade, Radicalidade e Totalidade.

Para que a reflexão seja filosófica é preciso que haja Criticidade. Crítica é a arte de julgar e de discernir o valor. Criticar é, portanto, ter o cuidado de, com rigor, saber estabelecer critérios. Ninguém faz crítica sem entender o contexto. Por isso que o espectador comum não pode fazer uma crítica elaborada de um filme - por exemplo, ele poderá até dar opiniões, mas não faz crítica, porque lhe falta o essencial: informações contextuais. Alem da criticidade é preciso Radicalidade, ou seja, buscar a raiz, a origem e os fundamentos do problema. O conhecimento que não é radical, que não vai à raiz do problema, é ingênuo, ou seja, é a manifestação de uma consciência ingênua que é aquela que conclui tal como pensa, não provêm da realidade nem tem origens em idéias anteriores. É um conhescimento superficial que não esclarece e nem possibilita negação. Portanto, não é conhecimento filosófico. A reflexão filosófica é como a raiz de uma planta que se lança em busca de sempre maior profundidade.
A terceira e última característica do pensamento filosófico é a Totalidade. A reflexão filosófica totalitária, não faz cortes no real a ser posto em crise, como faz a ciência. As ciências explicam partes do todo, enquanto que a Filosofia está interessada no problema em sua totalidade, sem fragmentação.
Estas três características se interpenetram e constituem a própria reflexão. Ao pensar dialeticamente, o filósofo ser somente crítico, sem ser radical e vice-versa. E da mesma forma, não consegue abordar um problema, em sua totalidade sem nela incluir uma postura crítica e uma atitude radical.
A Filosofia parte sempre do que já existe, critica, questiona, vislumbra possibilidades e outros modos de compreender o mundo. O ponto de chegada do ensina da Filosofia consiste na formação de mentes ricas de teorias, hábeis no uso do método, capazes de propor e desenvolver de modo metódico os problemas e de ler, de modo crítico, a complexa realidade que nos circunda.

Limpando os olhos com as lágrimas.

“O homem é um aprendiz e a dor é a sua professora;
ninguém se conhece enquanto não sofreu”
(Alfred Musset).

Depois que nascemos algumas certezas – a morte, por exemplo – são tidas como inevitáveis. Uma outra realidade, inerente ao ser humano, embora pareça ferir mais uns do que outros é o sofrimento.
Assim como o jardineiro poda as plantas para mantê-las em harmonia e ganharem mais vida, o sofrimento molda a vida de quem sofre. Muitas pessoas não o aceitam, e chegam ao extremo do desespero e explodem de raiva da situação em que se encontram.
Creio que ninguém sofre por um acaso. Se o dente dói, certamente a carie já está presente nele. Assim é o sofrimento, ele oferece um “sinal” que algo está errado na vida. Olhando por esse ângulo, passamos a aceitar o sofrimento (não que eu seja ou esteja fazendo apologia ao masoquismo), me atrevo a pensar que quando passamos a entender isso, lucramos muito... E aprendemos a usar as lágrimas para limpar os olhos.
Em contrapartida, quando olhamos o nosso sofrer exclusivamente pela ótica da negatividade ele pode nos levar a nossa autodestruição.
Quantas maravilhas já entraram na vida de muitas pessoas disfarçadas de grandes problemas que causaram tanto sofrimento. Às vezes é uma palavra que nos destrói, porém, nós precisávamos ouvi-la, talvez não daquela forma e naquelas circunstâncias, mas tínhamos necessidades dela... É grande a força das palavras, maior que a força física, bem maior... Pois, ficam guardadas num cantinho de difícil cicatrização.
Os dias-noites faz parte da vida, eles clamam por compreensão. É difícil, mas somos obrigados a vivê-los, eles nos proporcionam uma nova noção de quem realmente somos e de como é enigmática a arte de viver. Estamos muito acostumados, ou mal-acostumados viver e aceitar um único lado da vida: o lado feliz, desprovido de dor.
Portanto, o sofrimento é um pedido de reflexão. Não aceita-lo é negar a nossa própria natureza. O maior desafio é aprender a escutar a nossa própria dor.

Para que serve filosofia?

Muitos estudiosos da área de filosofia diriam que é impossível definir filosofia sem antes, vivenciá-la. Podemos dizer, porém de maneira incompleta, que filosofia é o esforço intelectual para responder a todas as perguntas que possamos fazer e também um esforço para estudar os próprios meios de conseguir as respostas.
Para mim, o filósofo é aquele que quer enxergar o que vêr, e luta por querer escutar o que ouve.
A filosofia não é uma ciência, ela não tem uma área de atuação, ela investiga tudo. Ela se ocupa em levantar questões e tenta resolvê-las. De fato o que a filosofia faz é criar problemas para serem resolvidos. Por exemplo, Tales que viveu na cidade de Mileto, na Grécia antiga, se questionou sobre a origem de todas as coisas. Ele criou um problema: “Do que são feitas todas as coisas existentes?”, através da sua vivência e da sua observação, ele concluiu que a origem de tudo era a água, ou seja, tudo o que existia era apenas uma mesma coisa.
Um filósofo é alguém que está sempre desconfiado e que nunca se contenta com a primeira resposta para as suas perguntas. O filósofo é um investigador que não gosta de explicações superficiais. Ele quer conhecer o que está escondido atrás de cada resposta e de cada pergunta.
Um professor de filosofia, não é algum tipo de sábio ou conhecedor de verdades, é apenas alguém que tenta despertar o senso crítico, a curiosidade e desconfiança em seus alunos. Por isso muitos professores de filosofia criam situações de conflito com os seus alunos. É uma maneira de fazê-los discutir. Professores de filosofia querem que seus alunos discutam e questionem ao invés de vê-los aceitarem o que é dito sem refletir a respeito. Um filósofo também é de certa forma, um provocador.
Sócrates, talvez o mais famoso dos filósofos, eu particularmente o reverencio, pela sua atuação no meio do povo, nas praças, espertando-o, costumava ir a locais públicos conversar com as pessoas que encontrava. Ele questionava as pessoas apenas para provocá-las, para que elas percebessem que não tinham pensado o suficiente sobre o que achavam que conheciam.
Mas do que se ocupa a filosofia especificamente? A resposta é simples: a filosofia se ocupa de tudo o que não for ciência. Isso inclui a ontologia, a metafísica, a lógica, a teoria do conhecimento, a gnosiologia, a ética, a estética e a filosofia da religião.
O exercício filosófico surge do questionamento e da investigação, em resumo, poderíamos dizer que filosofar é em grande parte exercitar o senso crítico e aguçar a curiosidade. O saber filosófico difere do saber comum, sem fundamentação. Na filosofia não existe o “eu acho”. Todo saber filosófico é conseguido através de algum método de investigação.
No início do desenvolvimento do saber, todo conhecimento da humanidade era conhecimento filosófico. Com o passar do tempo os conhecimentos foram se tornando mais específicos e a partir daí surgiram as ciências. Grande parte do que conhecemos e dos avanços nas áreas da medicina, sociologia, psicologia, física e em outras áreas científicas, surgiram dos questionamentos filosóficos.
Embora a filosofia não tenha todas as respostas, ela garante que os esforços despendidos para resolver os problemas tragam benefícios para a humanidade.
Aristóteles, que viveu na Grécia antiga nos deixou obras que tratam de retórica, política, direito, economia, lógica, metafísica e biologia. Seus escritos são quase tão válidos hoje como eram em sua época.
“Para que serve filosofia?” Essa simples pergunta se origina de um grande equívoco e implica que a filosofia se faz muito necessária.
A imagem da filosofia para muitos é de uma disciplina que não se ocupa de coisas práticas e úteis, mas apenas de especulações inverificáveis. Dizendo de outra forma, muitos acreditam que a filosofia é uma total perda de tempo. Isso é um grande engano, na verdade é exatamente o contrário. Quando investigamos o mundo e a nós mesmos, nossa percepção sobre as coisas que nos rodeiam se altera e com ela a maneira de interagirmos com a realidade. Isso inclui a forma como lidamos com o próximo, com as questões políticas e morais; com a vida e a morte, com a natureza, com o conceito de Deus e tudo o mais. As conseqüências práticas são imediatas.
Um exemplo prático e imediato de exercitar a filosofia é o desenvolvimento de senso crítico que nos torna menos manipuláveis. Quem seria mais suscetível de ser enganado e manipulado? Alguém que aceita tudo o que lê e escuta ou alguém que questiona e busca verificar a consistência do que é dito? Óbvio que aquele que possui um senso crítico mais desenvolvido será menos suscetível a manipulação. Além disso, o que mais investiga tem mais chance de explicar o por quê das coisas e de reparar enganos.
Aristóteles, por exemplo, fez muitas observações zoológicas que, temporariamente rejeitadas por biologistas posteriores, foram confirmadas pela pesquisa moderna.
As pessoas deveriam desconfiar daqueles que não estimulam a investigação filosófica ou que a desmerecem. Normalmente isso é feito por uma minoria que quer exercer o poder de manipulação sobre um determinado grupo ou por alguém que se sente ferido em seu orgulho quando a filosofia aponta os seus erros.
Embora muitos filósofos possam divergir em se tratando de questões existenciais, políticas e morais, todos eles possuem algo em comum: exercitam a maior qualidade do homem que é o seu poder intelectual. Viver sem exercitar esse poder, isso sim, seria uma verdadeira perda de tempo.
Todo estudante de filosofia acaba refazendo o caminho percorrido pela filosofia desde o início para poder situar-se em seu próprio tempo como investigador filosófico. Para reconhecer-se em seu lugar na história da filosofia. Diferente das ciências, as teorias filosóficas não se tornam obsoletas. A filosofia não exclui as suas antigas teorias e se aproveita da última versão atualizada das explicações; isso não existe na filosofia. Ela está sempre voltando às suas origens para ser repensada.
Isso quer dizer o que encontramos nas obras dos diversos filósofos não deve ser lido e absorvido como se fossem verdades. Deve ser lido com senso crítico e com desconfiança. Até mesmo porque muitos divergem em vários pontos.
Filosofar não é ler livros de filosofia, não é lecionar filosofia, nem saber o que um filósofo disse ou pensou. Filosofar é, antes de mais nada, ter sensibilidade para admirar-se com tudo e questionar o porquê; é investigar qualquer assunto a fim de se aproximar de uma explicação satisfatória e nunca acreditar que alguém ou algum livro possua todas as respostas exatas, seja sobre arte, vida, sociedade ou qualquer assunto. A filosofia nasce do desejo de saber, de conhecer, e por tanto, é algo inerente ao ser humano.

Bibliografia: .

_ MORENTE, Manoel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. 8 ed. Mestre Jou, 1980.
_ DURANT, Will. A História da Filosofia. 4 ed. Nova Cultural Ltda, 1996.

Ter e Ser

Não é difícil observarmos que muitas pessoas se preocupam bastante em exibir roupas e adereços que simbolizam, em nossa sociedade, nível social elevado. Determinados cortes de cabelo, certos estilos de roupa, modelos de celular, modelos de carro... São preocupações constantes na vida cotidiana das pessoas que sentem necessidade de estarem na moda ou de pelo menos mostrarem-se pertencentes a determinado nível ou grupo social.
Consumismo ostentatório é o termo que define esse tipo de comportamento. O desenvolvimento dos meios de comunicação aliados aos mecanismos de obtenção de lucro do capitalismo constituem fatores importantes que contribuíram e contribuem para o surgimento desse tipo de pensamento. Diariamente somos bombardeados pelas propagandas que tem por objetivo nos fazer crer que somos aquilo que vestimos; que o modelo do nosso celular é o que define a nossa personalidade; que a marca do tênis ou do relógio dão pistas sobre quem somos. Frases como “Você é o que veste” ou “Use a alma para o lado de fora” são exemplos de slogans usados pela indústria da moda. Esse tipo de mensagem nos acompanha durante toda a vida e acabamos acreditando que são verdadeiras.
Em uma sociedade consumista, o valor do “ter” supera o valor do “ser”. Preocupados com o que podem comprar, as pessoas se esqueceram da importância do aperfeiçoamento pessoal, do caráter e da personalidade. Esqueceram que mais importante que os bens que ostentam, são os valores morais que possuem. Isso é refletido, por exemplo, nos relacionamentos afetivos dos casais. O homem passou a se preocupar mais com o aspecto físico da mulher do que em saber se ela pode ser uma boa companheira. A mulher se preocupa mais em conhecer a condição financeira do homem do que em saber se ele é honesto e confiável. Esses relacionamentos possuem uma característica dos bens de consumo: rapidamente se tornam obsoletos. Ele e ela logo sentirão necessidade de trocar o parceiro por outro.
Pessoas que entendem que o caráter tem prioridade sobre a aparência e os bens materiais têm mais chances de serem felizes independente da situação financeira que possuam. O que as motiva é a valorização do que está por dentro e não da parte externa e visível.
O passo mais importante para o aperfeiçoamento do caráter é o autoconhecimento. O esforço sincero para conhecer a si mesmo renderá reflexões e esse será o ponto de partida do aperfeiçoamento pessoal. Conhecer a si mesmo não significa apenas estar ciente dos seus medos, suas fraquezas, suas qualidades e gostos. É uma eterna busca de mecanismos e conceitos úteis para extirpar vícios e cultivar virtudes. É desenvolver uma consciência sobre o nosso papel na sociedade e agir de acordo. É desenvolver maturidade para lidar com problemas, é ver além da imagem e da superfície, é saber como conseguir força de vontade e coragem diante de dificuldades. Enfim, significa nos preocuparmos mais com quem realmente somos e menos com o que pensam de nós.