Ter e Ser

Não é difícil observarmos que muitas pessoas se preocupam bastante em exibir roupas e adereços que simbolizam, em nossa sociedade, nível social elevado. Determinados cortes de cabelo, certos estilos de roupa, modelos de celular, modelos de carro... São preocupações constantes na vida cotidiana das pessoas que sentem necessidade de estarem na moda ou de pelo menos mostrarem-se pertencentes a determinado nível ou grupo social.
Consumismo ostentatório é o termo que define esse tipo de comportamento. O desenvolvimento dos meios de comunicação aliados aos mecanismos de obtenção de lucro do capitalismo constituem fatores importantes que contribuíram e contribuem para o surgimento desse tipo de pensamento. Diariamente somos bombardeados pelas propagandas que tem por objetivo nos fazer crer que somos aquilo que vestimos; que o modelo do nosso celular é o que define a nossa personalidade; que a marca do tênis ou do relógio dão pistas sobre quem somos. Frases como “Você é o que veste” ou “Use a alma para o lado de fora” são exemplos de slogans usados pela indústria da moda. Esse tipo de mensagem nos acompanha durante toda a vida e acabamos acreditando que são verdadeiras.
Em uma sociedade consumista, o valor do “ter” supera o valor do “ser”. Preocupados com o que podem comprar, as pessoas se esqueceram da importância do aperfeiçoamento pessoal, do caráter e da personalidade. Esqueceram que mais importante que os bens que ostentam, são os valores morais que possuem. Isso é refletido, por exemplo, nos relacionamentos afetivos dos casais. O homem passou a se preocupar mais com o aspecto físico da mulher do que em saber se ela pode ser uma boa companheira. A mulher se preocupa mais em conhecer a condição financeira do homem do que em saber se ele é honesto e confiável. Esses relacionamentos possuem uma característica dos bens de consumo: rapidamente se tornam obsoletos. Ele e ela logo sentirão necessidade de trocar o parceiro por outro.
Pessoas que entendem que o caráter tem prioridade sobre a aparência e os bens materiais têm mais chances de serem felizes independente da situação financeira que possuam. O que as motiva é a valorização do que está por dentro e não da parte externa e visível.
O passo mais importante para o aperfeiçoamento do caráter é o autoconhecimento. O esforço sincero para conhecer a si mesmo renderá reflexões e esse será o ponto de partida do aperfeiçoamento pessoal. Conhecer a si mesmo não significa apenas estar ciente dos seus medos, suas fraquezas, suas qualidades e gostos. É uma eterna busca de mecanismos e conceitos úteis para extirpar vícios e cultivar virtudes. É desenvolver uma consciência sobre o nosso papel na sociedade e agir de acordo. É desenvolver maturidade para lidar com problemas, é ver além da imagem e da superfície, é saber como conseguir força de vontade e coragem diante de dificuldades. Enfim, significa nos preocuparmos mais com quem realmente somos e menos com o que pensam de nós.

Um comentário:

  1. Excelente reflexão do valor da vida e de nosso papel diante da proposta de ser ou ter. Você cresce e amadurece na Filosofia. Continue... Prof. Dário Benedito Rodrigues, de Bragança/PA

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