Para que serve filosofia?

Muitos estudiosos da área de filosofia diriam que é impossível definir filosofia sem antes, vivenciá-la. Podemos dizer, porém de maneira incompleta, que filosofia é o esforço intelectual para responder a todas as perguntas que possamos fazer e também um esforço para estudar os próprios meios de conseguir as respostas.
Para mim, o filósofo é aquele que quer enxergar o que vêr, e luta por querer escutar o que ouve.
A filosofia não é uma ciência, ela não tem uma área de atuação, ela investiga tudo. Ela se ocupa em levantar questões e tenta resolvê-las. De fato o que a filosofia faz é criar problemas para serem resolvidos. Por exemplo, Tales que viveu na cidade de Mileto, na Grécia antiga, se questionou sobre a origem de todas as coisas. Ele criou um problema: “Do que são feitas todas as coisas existentes?”, através da sua vivência e da sua observação, ele concluiu que a origem de tudo era a água, ou seja, tudo o que existia era apenas uma mesma coisa.
Um filósofo é alguém que está sempre desconfiado e que nunca se contenta com a primeira resposta para as suas perguntas. O filósofo é um investigador que não gosta de explicações superficiais. Ele quer conhecer o que está escondido atrás de cada resposta e de cada pergunta.
Um professor de filosofia, não é algum tipo de sábio ou conhecedor de verdades, é apenas alguém que tenta despertar o senso crítico, a curiosidade e desconfiança em seus alunos. Por isso muitos professores de filosofia criam situações de conflito com os seus alunos. É uma maneira de fazê-los discutir. Professores de filosofia querem que seus alunos discutam e questionem ao invés de vê-los aceitarem o que é dito sem refletir a respeito. Um filósofo também é de certa forma, um provocador.
Sócrates, talvez o mais famoso dos filósofos, eu particularmente o reverencio, pela sua atuação no meio do povo, nas praças, espertando-o, costumava ir a locais públicos conversar com as pessoas que encontrava. Ele questionava as pessoas apenas para provocá-las, para que elas percebessem que não tinham pensado o suficiente sobre o que achavam que conheciam.
Mas do que se ocupa a filosofia especificamente? A resposta é simples: a filosofia se ocupa de tudo o que não for ciência. Isso inclui a ontologia, a metafísica, a lógica, a teoria do conhecimento, a gnosiologia, a ética, a estética e a filosofia da religião.
O exercício filosófico surge do questionamento e da investigação, em resumo, poderíamos dizer que filosofar é em grande parte exercitar o senso crítico e aguçar a curiosidade. O saber filosófico difere do saber comum, sem fundamentação. Na filosofia não existe o “eu acho”. Todo saber filosófico é conseguido através de algum método de investigação.
No início do desenvolvimento do saber, todo conhecimento da humanidade era conhecimento filosófico. Com o passar do tempo os conhecimentos foram se tornando mais específicos e a partir daí surgiram as ciências. Grande parte do que conhecemos e dos avanços nas áreas da medicina, sociologia, psicologia, física e em outras áreas científicas, surgiram dos questionamentos filosóficos.
Embora a filosofia não tenha todas as respostas, ela garante que os esforços despendidos para resolver os problemas tragam benefícios para a humanidade.
Aristóteles, que viveu na Grécia antiga nos deixou obras que tratam de retórica, política, direito, economia, lógica, metafísica e biologia. Seus escritos são quase tão válidos hoje como eram em sua época.
“Para que serve filosofia?” Essa simples pergunta se origina de um grande equívoco e implica que a filosofia se faz muito necessária.
A imagem da filosofia para muitos é de uma disciplina que não se ocupa de coisas práticas e úteis, mas apenas de especulações inverificáveis. Dizendo de outra forma, muitos acreditam que a filosofia é uma total perda de tempo. Isso é um grande engano, na verdade é exatamente o contrário. Quando investigamos o mundo e a nós mesmos, nossa percepção sobre as coisas que nos rodeiam se altera e com ela a maneira de interagirmos com a realidade. Isso inclui a forma como lidamos com o próximo, com as questões políticas e morais; com a vida e a morte, com a natureza, com o conceito de Deus e tudo o mais. As conseqüências práticas são imediatas.
Um exemplo prático e imediato de exercitar a filosofia é o desenvolvimento de senso crítico que nos torna menos manipuláveis. Quem seria mais suscetível de ser enganado e manipulado? Alguém que aceita tudo o que lê e escuta ou alguém que questiona e busca verificar a consistência do que é dito? Óbvio que aquele que possui um senso crítico mais desenvolvido será menos suscetível a manipulação. Além disso, o que mais investiga tem mais chance de explicar o por quê das coisas e de reparar enganos.
Aristóteles, por exemplo, fez muitas observações zoológicas que, temporariamente rejeitadas por biologistas posteriores, foram confirmadas pela pesquisa moderna.
As pessoas deveriam desconfiar daqueles que não estimulam a investigação filosófica ou que a desmerecem. Normalmente isso é feito por uma minoria que quer exercer o poder de manipulação sobre um determinado grupo ou por alguém que se sente ferido em seu orgulho quando a filosofia aponta os seus erros.
Embora muitos filósofos possam divergir em se tratando de questões existenciais, políticas e morais, todos eles possuem algo em comum: exercitam a maior qualidade do homem que é o seu poder intelectual. Viver sem exercitar esse poder, isso sim, seria uma verdadeira perda de tempo.
Todo estudante de filosofia acaba refazendo o caminho percorrido pela filosofia desde o início para poder situar-se em seu próprio tempo como investigador filosófico. Para reconhecer-se em seu lugar na história da filosofia. Diferente das ciências, as teorias filosóficas não se tornam obsoletas. A filosofia não exclui as suas antigas teorias e se aproveita da última versão atualizada das explicações; isso não existe na filosofia. Ela está sempre voltando às suas origens para ser repensada.
Isso quer dizer o que encontramos nas obras dos diversos filósofos não deve ser lido e absorvido como se fossem verdades. Deve ser lido com senso crítico e com desconfiança. Até mesmo porque muitos divergem em vários pontos.
Filosofar não é ler livros de filosofia, não é lecionar filosofia, nem saber o que um filósofo disse ou pensou. Filosofar é, antes de mais nada, ter sensibilidade para admirar-se com tudo e questionar o porquê; é investigar qualquer assunto a fim de se aproximar de uma explicação satisfatória e nunca acreditar que alguém ou algum livro possua todas as respostas exatas, seja sobre arte, vida, sociedade ou qualquer assunto. A filosofia nasce do desejo de saber, de conhecer, e por tanto, é algo inerente ao ser humano.

Bibliografia: .

_ MORENTE, Manoel Garcia. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. 8 ed. Mestre Jou, 1980.
_ DURANT, Will. A História da Filosofia. 4 ed. Nova Cultural Ltda, 1996.

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